sábado, 31 de março de 2012

A palestra do Embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeg Ezabadi





Embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeg Ezabadi







Embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeg Ezabadi conversou animadamente, na noite passada, com um público eclético, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio, e desmistificou a imagem de um país que, sob o ponto de vista de seus inimigos, como os EUA e Israel, seria uma ameaça à paz mundial. 


Sempre em tom amistoso, sem elevar uma só vez o tom da voz que respondia em farsi às perguntas formuladas em português, Ezabadi foi aplaudido ao destensionar a audiência com uma afirmação inusitada para aqueles que imaginam os iranianos como repressores das mulheres:


– Lá no Irã, a última palavra, diante do que a mulher está dizendo, é sempre dos homens: “Sim, senhora”.


A palestra, promovida pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás, AEPET, Sindicato do Petroleiros do Rio de Janeiro-SINDIPETRO, CGTB e o Partido Pátria Livre-PPL, abordava o tema da energia nuclear como o centro da pauta, mas temas como o Holocausto, as ameaças dos EUA e de Israel contra o Programa nuclear iraniano e a suposta ameaça nuclear que estaria em curso no país terminaram por dominar o encontro.




– A proposta iraniana é de energia nuclear para todos e armas nucleares para país nenhum – desarmou o diplomata.




Repetiu várias vezes que há um decreto do aitolá Khomeini, líder da Revolução Islâmica de 1979, contra a bomba atômica, e que o Irã não acredita que ter o armamento poderia garantir sua segurança.




Segundo Ezabadi, a verdadeira razão do conflito que se desenha, no Golfo Pérsico, entre os EUA e seus aliados é o petróleo, “é isso que motiva os EUA e outros países a querer dominar o mundo” .


– O Irã é o segundo país do mundo em gás natural e petróleo. E o primeiro que em recursos de hidrocarbonetos. Certamente, haverá uma grande repercussão no mundo no momento em que o Irã passar a somar esse fato a um grande desenvolvimento tecnológico, que é nosso objetivo. No futuro a energia será o ponto final das conversas .


Sobre a construção de artefatos militares a partir do desenvolvimento nuclear, o embaixador desfaz o discurso do Ocidente.




– Isso é um slogan dos EUA sobre o desenvolvimento da tecnologia no Irã. Nós desenvolvemos a energia nuclear para fins pacíficos. Não acreditamos que possuir uma bomba atômica ou fabricar a bomba atômica seja capaz de oferecer segurança para qualquer país. Vejam o caso da ex-URSS. O país possuía muitas bombas atômicas e isso não impediu o colapso do regime. 


A África do Sul, com todo o seu arsenal atômico, não conseguiu enfrentar as grandes manifestações que colocaram fim ao Apartheid. Nós acreditamos que a segurança de um país está assegurada pela justiça social, pela distribuição da riqueza para o povo, nas posições firmes da nação – afirmou o embaixador.


O desgaste da imagem do Irã perante a opinião pública também foi um fato abordado durante os questionamentos respondidos por Ezabadi. 


A ação da mídia conservadora, alinhada aos interesses dos EUA, tem causado um estrago considerável na imagem do Irã, admite o diplomata, mas ele espera reverter o quadro “com a verdade”.




– Nada melhor do que a verdade para reparar estes danos causados pela campanha de difamação a qual meu país tem enfrentado, em nível mundial. A imagem do Irã, apresentada pela imprensa ocidental, não nos deixa contentes. Basta olhar para história contemporânea iraniana: nunca invadimos nenhuns pais, nunca tivemos um conflito sequer iniciado pelo Irã. 


Todos podem comprovar que nestes últimos 30 anos, não houve um atentado terrorista sequer no qual o Irã estivesse por trás, nunca foi comprovado isso. 




Nos atentados de 11 de setembro, será que o Irã estava atrás de tudo isso? Alguém ouvir falar ou leu uma noticia sequer de que um judeu, em qualquer parte do mundo, foi assassinado por um iraniano? Não temos nada contra os judeus. 




Historicamente o povo iraniano salvou o povo judeu e isso foi registrado na nossa história. O povo judeu esta concentrado no Estado de Israel, mas há uma comunidade grande de judeus que vive no Irã. É tão importante que tem representantes no nosso parlamento .




Ezabadi frisou, ainda, que o argumento do governo sionista de Israel para avocar o direito de autodefesa trata-se, na realidade, de uma falácia. Segundo o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, seu contraparte iraniano, Mahmoud Ahmadinejad teria afirmado que o objetivo do Estado iraniano é “varrer Israel do mapa”, após não reconhecer a existência do Holocausto.




– O que o presidente Ahmadinejad fez, na verdade, foi uma pergunta: “Por que o Holocausto, se existiu mesmo, não pode ser pesquisado por ninguém que não seja judeu?”. Daí todo esse mal entendido que se arrasta por tantos anos .




Apoio brasileiro




Em sua primeira palestra aos brasileiros, o embaixador Ezabadi também fez questão de frisar o apoio do governo brasileiro ao Irã, consolidado na atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o auge da crise entre o Irã e o Ocidente, na questão nuclear.




– O presidente Lula colocou o Brasil, de maneira definitiva, no cenário internacional, ao mediar juntamente com a Turquia as negociações junto à ONU, quanto ao nosso programa de enriquecimento de urânio. Somos signatários, desde então, do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, fato que as nações alinhadas aos EUA fazem questão de esquecer. 


Mas, desde então, temos no Brasil um parceiro sincero e agora, no governo da presidenta Dilma,consolidamos essa ótima relação – concluiu o embaixador iraniano.

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