Expurgo de Bo Xilai, secretário do partido em Chongquing. |
O ex-presidente Jiang Zemin supostamente fortaleceu sua posição em 1995 armando uma prisão de 16 anos por corrupção contra o membro do Politburo e prefeito de Pequim, Chen Xitong. Há cerca de quatro anos, um opositor do presidente Hu Jintao e do premiê Wen Jiabao, o secretário do partido Chen Liangyu, de Xangai, foi sentenciado a 18 anos de prisão por acusações de suborno. A intriga sempre permeou o processo confuso de distribuição do poder no Partido Comunista da China.
A transição da liderança que começará neste outono chinês deveria supostamente pôr fim a esse derramamento de sangue político. Mas a deposição, na quinta-feira, de Bo Xilai, o secretário do PC do município de Chongqing que fazia campanha aberta por um lugar na elite dirigente, ameaça manchar o verniz de civilidade num momento crucial, levantando preocupações de um conflito desestabilizador no partido.
Carismático e implacável, Bo é o raro político chinês que construiu uma base de apoio popular. Sua formidável influência política inclui uma rede de apoio herdada do pai, um herói da revolução de 1949. Seus admiradores incluem esquerdistas que querem o renascimento do controle absoluto do governo sobre a sociedade.
Agora, essa elite dirigente, o Comitê Permanente de nove membros do Politburo, parece ter bloqueado a campanha de Bo para assumir um de seus assentos. A explicação superficial para sua destituição da liderança do partido em Chongqing é simples: o vice de longa data de Bo, Wang Lijun, ex-chefe de polícia de Chongqing, escandalizou a nação ao refugiar-se num consulado americano em fevereiro, aparentemente por temer a prisão ou algo pior. Bo pagou o preço de não impedi-lo.
Mas especialistas de fora dizem – e evidências episódicas sugerem – que velhas intrigas que se acreditavam superadas estão novamente em ação. Aliás, alguns analistas dizem que a destituição de Bo poderá antecipar o tipo de luta interna não vista desde que os protestos da Praça da Paz Celestial puseram a China num curso rigidamente autoritário, há quase 23 anos.
"Essa é uma questão política crítica, talvez a mais crítica desde 1989", disse numa entrevista Joseph Fewsmith, um estudioso dos dirigentes de alto escalão da China na Universidade de Boston. As políticas para Chongqing de Bo, disse Fewsmith, poderiam representar "uma ameaça para a reforma e a abertura tal como têm sido implementadas desde a era de Deng Xiaoping".
"O problema fundamental de Bo é que ele não opera de acordo com as práticas estabelecidas do partido", disse um jornalista de um órgão noticioso do Partido Comunista, que pediu anonimato temendo perseguições. "Seu modo de fazer as coisas ameaça e assusta seus membros." Não está claro quem ganha e quem perde na tentativa de silenciar Bo.
Para alguns, a saída de Bo enfraquece a frouxa coalizão partidária que ainda é mantida por Jiang Zemin, que deixou a presidência da China há uma década, mas ainda influencia dos bastidores por meio de funcionários que instalou na burocracia dirigente. Os motivos de Jiang não estão claros; um de seus protegidos, Zhou Yongkang, dirigente de segurança pública e por dentro dos assuntos do Politburo, está entre os apoiadores mais enfáticos de Bo.
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