sexta-feira, 17 de junho de 2011

Massacre de Sabra e Shatila.







Não  podemos jamais esquecer, pelo simples fato que massacres como esse do acampamento palestino de Sabra e Chatila, no Líbano, continuam sendo perpetrados até os dias atuais .

Israel ocupou o Líbano e o sul do país, por diversas vezes, desde a proclamação de sua existência em 14 de maio de 1948 por Ben Gurion.  A guerra civil  no Libano  que tinha começado em 75 e dividido o país entre Muçulmanos e Cristãos, Sunitas e Xiitas, Palestinos , continuava.

O episódio de 1982 tem um caráter e uma lembrança especial. Os dias que se transcorreram o massacre , tem início no dia 14 de setembro desse ano.

Massacre de Sabra e Chatila    foi o morticínio de refugiados civis palestinos e libaneses perpetrado pela milícia  cristã  maronita liderado por Elie Hobeika após o assassinato do presidente-eleito do país e líder falangista, Bachir Gemayel.

 O evento ocorreu nos campos palestinos de Sabra  e Shatila ,  situados na periferia de Beirute, a sul da cidade, área que se encontrava então sob proteção das forças armadas de Israel.. Falanges e milícias cristãs se enfurecem e radicalizam. Bachir Gemayel , como se soube, defendia abertamente um acordo de paz com Israel.

Quem comandava a ocupação do Líbano por Israel era ninguém menos do que o general Ariel Sharon, ex-primeiro ministro, hoje um morto-vivo, em coma há mais de  anos. Verdade seja dita, não foram os soldados sionistas diretamente que perpetraram o massacre.

Mas, o fizeram com as mãos de libaneses inescrupulosos, das falanges de extrema direita e pró-sionistas.

Os tanques israelenses deram total cobertura. Cercaram esses dois acampamentos de refugiados palestinos. Israel forneceu até as tochas que iluminaram os acampamentos à noite para que cerca de 600 milicianos entrassem nos campos. Milhares de famílias de palestinos moravam nessas localidades.

Durante toda a noite do dia 16 de setembro e o dia todo do dia 17 ouviu-se tiros e explosões. Era o início do massacre. E o massacre foi o mais cruel que se pode ver em toda a história dos massacres que israelenses e cristãos fizeram contra palestinos.

Relatos idôneos da Cruz Vermelha Internacional dão conta de mulheres brutalmente estupradas e depois esquartejadas. A medida que a noite descia, o exército sionista    começou a disparar fogos de   iluminação.

O céu brilhou com fogo e com sangue. Durante as 48 horas seguintes as milícias Falangistas perpetraram um massacre sobre a população Palestiniana sob o pretexto encontrar e prender terroristas, com o conhecimento do exército de Israel e do então Ministro da Defesa  de    Israel   Ariel Sharon.

Sharon sofreu na verdade a sua maior derrota política com esse episódio. Mesmo sendo ministro da Defesa de Israel, acabou tendo que se afastar e alguns dias depois do episódio, onde se estimam tenham morrido mais de três mil jovens, mulheres, crianças e velhos, uma manifestação de 400 mil pessoas pedia punição, em Tel Aviv, pedindo a saída de Sharon.

O ex-ministro nunca foi punido por isso, pela sua responsabilidade direta no massacre. Nem ele, nem o general Rafael Eitan, que era mancomunado com os cristãos falagistas   libaneses de direita.

Uma comissão israelense de inquérito concluiu o então ministro da Defesa, Ariel Sharon, o arquiteto da invasão, foi indiretamente responsável pelo massacre, o que levou a sua demissão em 1983.

O então primeiro Ministro de Israel era Menachem Béguin, já morto. Ele mesmo um dos autores de outro famoso massacre a uma aldeia palestina, mas há 60 anos, em 1947, em abril, que se chamava Deir Yassim. Nesse caso morreram “só” 250 palestinos. Béguin entende do assunto. Mas, por pressão popular e por decisão de uma comissão de investigação interna do governo, Béguin acabou tendo que afastar Sharon, que amargou 15 anos de ostracismo político, retornando apenas em 1998 e agora vive de forma vegetativa em coma.

Muitos árabes culpam Israel pela matança, notando que os soldados de seu exército  sionista  invasor estavam  do lado  de   fora dos campos durante o massacre  dando cobertura  e de forma clara participando deste crime contra a humanidade.

A revista Veja tinha, então, como seu correspondente no Líbano o repórter Alessandro Porro, judeu que procurou desmentir a alegação de que o exército de Israel não percebera a ocorrência do massacre era uma falácia, chegando mesmo a contar quantos passos havia entre os campos e o quartel israelense, no que foi considerado um furo jornalístico.

Sabra e Shatila continuam a ser duas zonas extremamente pobres, contrastando com a baixa parisiense e amante da dolce vita de Beirute.

Shatila ainda e um dos maiores campos de refugiados do Líbano e um dos mais deteriorados.  O sonho de uma terra própria mantém-se vivo.

Finalmente, em 2000, os israelenses se retiram do sul do Líbano, permanecendo nas fazendas de Shebaa, próximas às Colinas de Golã, pois Israel não considera as fazendas como território libanês.

Ali, a tensão continua, com a resistência de guerrilheiros do Hezbollah e de grupos laicos nacionalistas, palestinos e comunistas ( FPLP, PCL) contra a ocupação do território libanês por Israel.

            AOS   ENTES QUERIDOS DE SABRA E SHATILA.

Por Ramzy Baroud

Como vocês, também nasci e me criei em um campo de refugiados. Cresci com poucos brinquedos  mas com muitos aniversários de massacres para comemorar. Juntamente com meus companheiros, comemorei, entoei os nomes de seus entes queridos,  os de perto e os de longe, que morreram durante nossa luta justa para viver em liberdade.

Eu tinha apenas 10 anos quando o imam de nossa mesquita, com a voz embargada, transmitiu a notícia através dos alto-falantes, de um massacre. Eu tinha apenas 10 anos, mas ainda sinto a angústia que senti naquele dia. Meu pai chorou feito criança. Minha mãe me agarrou e a meus irmãos e se sentou silenciosamente. nossos vizinhos se reuniram em busca de notícias, alguns chorando, até mesmo aqueles que costumam dizer "homem que é homem não chora".

Cresci trazendo no coração aquela lembrança. Sabia que Sabra e Shatila não eram as primeiras  em que aquele tipo de crime tinha sido realizado contra a minha gente. O tempo também se encarregou de mostrar que não seria o último. Mas Sabra e Shatila foram o símbolo da desumanidade de nossos torturadores e um símbolo de nosso desafio, resistência e insistência que não deixaremos que se desvaneça jamais.

Vocês se arrastaram dos destroços de suas casas para serem testemunhas daquele momento de horror, um momento crítico que definiuu quem são vocês até hoje, e definiu a apatia deste mundo injusto.

Vocês se sentaram e choraram. Vocês contaram aos jornalistas o que aconteceu naquele dia. Vocês imploraram ao mundo que "fizesse alguma coisa". Vocês não precisavam transmitir nada. O mundo sabia muito bem o que tinha acontecido. Os americanos sabiam muito bem o que tinha acontecido. Até os israelenses sabiam muito bem o que tinha acontecido.

Mas, ainda assim, nada fizeram .

Israel assassinou seus entes queridos. Ariel Sharon, o festejado "guerreiro" de Israel, falou abertamente como ele enviou os falangistas cristãos para "limpar" o campo, para erradicar os "terroristas". Sharon queria estabelecer um exemplo para os militantes da OLP, cuja partida do Líbano tinha sido arrumada pelos Estados Unidos, os mesmos Estados Unidos que haviam prometido protegê-los e não conseguiram, os mesmos Estados Unidos que agora chamam o culpado de "homem de paz".

Vocês estavam vulneráveis quando os soldados israelenses fecharam seus campos, bloquearam as passagens que os levariam para a segurança e os ataques vieram do céu e da terra. Vocês deviam saber que um novo crime estava prestes a acontecer, quando os israelenses iluminaram os campos em todas as direções naquela noite fatídica, permitindo que os falangistas dentro do campo cumprissem a ordem: matar.

Morro só de  imaginar os seus sentimentos quando ouviram os soldados indo de casa em casa. Se aproximando da de vocês.

Ninguém pode recordar, a não ser vocês que viveram aqueles momentos, as vozes ensanguentadas das mães implorando aos soldados que poupassem seus filhos, e as vozes das crianças chorando antes de serem esfaqueadas ou baleadas.

Durante quase 30 anos, vocês procuraram por justiça, esperaram em seus campos de refugiados, em desespero e na pobreza, muito perto das sepulturas comuns onde seus entes queridos foram enterrados, muito perto da Palestina, para onde vocês ainda esperam retornar.

Meus irmãos, quase  30 anos se passaram e a liberdade e a justiça estão longe de ser encontradas.

Acabamos de comemorar o aniversário de seu massacre e nosso povo na Cisjordânia ainda está vivendo um mortal toque de recolher, e nosso povo em Gaza está enjaulado, cercado de arame farpado e soldados furiosos.

Mas, por que ainda me lembro de vocês como se o massacre tivesse ocorrido ontem? É porque seus assassinos ainda estão livres, liderando novas guerras, novos massacres? Ou será porque nossa memória é nosso patrimônio, ela abastece nossa resistência, obriga a sobrevivência da nossa luta justa por liberdade?

Desde criança até hoje, eu comemorei o aniversário de seu massacre. Eu costumava escrever pequenas estórias para as minhas aulas de árabe na escola básica, falando de sua dor. Na minha juventude, escrevi poesia sobre vocês e agora comemoro seu aniversário com um artigo, esperando que eu possa transmitir a estória de vocês para aqueles que não conhecem nada sobre a sua dor.

Eu assinei cada petição que me pediram para assinar, para processar Sharon. Escrevi para a ONU, para a Casa Branca, para "meus representantes", para o governo belga, para os grupos de direitos humanos, para cada um que eu achei por um segundo que poderia ajudar em sua causa. Ainda aguardo a resposta.

Portanto, desta vez, decidi escrever para vocês só para dizer "caros entes queridos, não os esquecerei porque se o fizer, terei esquecido quem eu sou, terei abandonado a minha natureza humana, terei abandonado o meu direito de retorno e o de vocês".


Líbano e os movimentos Palestinos.

O afluxo de refugiados palestinos entre 1948 e 1970, a reafirmação do nacionalismo árabe patrocinada por Gamal Abdel Nasser nas décadas de 1950 e 1960, a fundação da OLP em 1965, a expulsão de todos movimentos armados de resistência palestina na Síria, Jordânia e Egito, e a opção do nacionalismo palestino pela luta armada, abalariam política e demograficamente o delicado equilíbrio entre as comunidades libanesas. Após sua sangrenta expulsão da Jordânia, comandada pelo rei Hussein, naquilo que ficaria conhecido como o "Setembro Negro", em 1970, a OLP e em todos os seus movimentos afiliados mudaram-se para Beirute e o sul do Líbano. Lá, eles prometiam continuar a luta pela libertação da Palestina, em violação dos acordos firmados com autoridades libanesas que visavam regulamentar as atividades das organizações palestinas no país. A comunidade muçulmana no Líbano viu nos movimentos palestinos (em sua grande maioria sunita) uma oportunidade para renegar o Pacto Nacional de 1943, através da utilização dos próprios palestinos como arma política para pressionar os seus concidadãos cristãos na revogação desse acordo não-escrito, que estabeleceu a divisão de poder entre as três maiores comunidades, com os cargos de presidente para os cristãos maronitas, de primeiro-ministro para os sunitas e o de presidente do Parlamento para os xiitas. Estas e outras garantias constitucionais levariam ao aumento do fervor dos muçulmanos, inspirados pelo resurgimento do pan-arabismo e pelos grupos de esquerda secular que atuavam a mando do bloco comunista soviético na década de 1960, conduzindo-os a se juntarem às forças da Frente de Partidos Progressistas e às Forças Nacionais em 1969.

Os muçulmanos da coligação oposicionista de esquerda (mais tarde, Movimento Nacional Libanês) pediu a realização de um novo recenseamento (o último havia sido realizado em 1932) e a subsequente elaboração de uma nova estrutura governamental que refletisse as mudanças ocorridas no próprio equilíbrio populacional. A comunidade cristã (especialmente maronita) viu isso como um ataque contra as bases do Estado do Líbano e um desrespeito ao Pacto Nacional. Além disso, os cristãos não queriam renegociar o pacto ou nele fazer rearranjos, uma vez que eles desejavam manter a sua dominação sobre a sociedade libanesa.

Com ambos os lados incapazes de resolver os seus conflitos de interesses, começou-se a formar milícias para proteção de suas comunidades. Estas milícias cresceram tanto que se chegou um momento em que estes grupos eram mais numerosos que o exército convencional e, conseqüentemente, rapidamente minava-se a autoridade do governo central. A capacidade do governo para manter a ordem também foi limitada pela natureza do exército libanês, um dos menores no Médio Oriente e também composto a partir da proporção fixa de religiões baseada no censo demográfico de 1932. Como seus membros contaminados pelo sectarismo das milícias, o exército libanês acabaria por se revelar incapaz de conter os grupos militantes, de deter a OLP e de monitorar infiltrações externas. Uma vez que os cristãos dominavam o governo e os principais postos militares, a confiança dos muçulmanos nas instituições centrais, incluindo o exército, estava em baixa. A desintegração do exército libanês teve início com desertores de muçulmanos que declararam não seguir mais as ordens de generais maronitas.

Durante toda a guerra civil, a maior parte ou todas as milícias cometeram violações aos direitos humanos, bem como o caráter sectário de algumas batalhas fizeram dos civis um alvo freqüente de ataques. À medida que a guerra arrastava, as milícias se assemelhavam cada vez mais a organizações mafiosas, composta por vários comandantes, e que faziam do crime sua principal atividade, ao invés da luta. O financiamento para o esforço de guerra era obtido em uma ou todas as três seguintes maneiras:

Apoio externo - Geralmente, a partir de rivais dos governos árabes, do Irã ou de Israel, ou ainda de potências externas como os Estados Unidos e a União Soviética, que furavam embargos. As alianças que mudavam com freqüência.
Rapinando a população - extorções e roubos eram atividades comuns. Durante um cessar-fogo, a maior parte das milícias operavam em suas áreas de influência como organizações mafiosas.
Contrabando - Durante a guerra civil, o Líbano se transformou em uma dos maiores produtores mundiais de narcóticos, em grande parte com a produção de haxixe no vale do Bekaa. Mas muito mais foi contrabandeado, como armas e suprimentos, todo o tipo de bens roubados, além da manutenção do comércio regular - com ou sem guerra, o Líbano não renunciava ao seu papel de intermediário entre o Ocidente e Oriente. Muitas batalhas ocorreram ao longo dos portos libaneses, de onde os contrabandistas tinham acesso a rotas marítimas.

Principais milícias
A maioria das milícias alegavam que não eram forças sectárias, mas de fato elas recrutavam principalmente a partir da sua comunidade ou da região de suas lideranças.
Milícias cristãs
As milícias cristãs adquiriram armas tanto junto a Romênia e Bulgária (países que integravam o antigo bloco comunista soviético) como também a Alemanha Ocidental, Bélgica e Israel , e recebiam apoio expressivo da grande maioria da população cristã radicada no norte do país. Em geral, eram grupos de tendência política de direita. Todas as principais milícias cristãs eram dominadas pelos maronitas, enquanto que outras seitas cristãs desempenhavam um papel secundário.

A mais poderosa destas milícias foi a Kataeb, ou Falange, sob a liderança de Bachir Gemayel. As Falanges passaram a ajudar as forças oficiais libanesas em 1977 e sob liderança de Samir Geagea em 1986. Uma facção menor cristã foi a nacionalista Guardiões do Cedros. Essa milícia rapidamente se estabeleceu em Beirute Oriental, dominada pelos cristãos e também local de muitos edifícios governamentais. No norte, as Brigadas Marada serviram como a milícia privada das famílias Franjieh e Zgharta.

Milícias xiitas
Os xiitas entraram nos combates civis de maneira lenta. Inicialmente, muitos xiitas reuniam-se no movimento palestino e no Partido Comunista libanês, mas, após o setembro negro de 1970, houve um súbito afluxo de palestinos armados para áreas xiitas. O movimento palestino rapidamente perdeu sua influência sobre os xiitas, como facções radicais dominadas pelas armas em grande parte das áreas xiitas inabitadas no sul do Líbano, onde passaram a se concentrar grande quantidade de refugiados palestinos e a cúpula da OLP demonstrou má vontade ou incapacidade em controlá-los.

Apesar de haver certa indisposição com o tradicionalismo da comunidade xiita, os radicais palestinos seculares simultaneamente tinham apresentado um modelo político revolucionário que atraía os jovens mais pobres e a mais oprimida comunidade do Líbano. Depois de muitos anos sem suas próprias organizações políticas independentes, eis que surgiu o Movimento xiita Amal nos anos1974-75. Com sua ideologia islâmica moderada, o Amal imediatamente atraiu as classes baixas urbanas e suas fileiras cresceram rapidamente. Posteriormente, no início dos anos oitenta, houve um racha no grupo com a saída de sua facção mais linha dura, que se juntou aos grupos xiitas que lutavam contra Israel para formar a guerrilha Hezbollah, que atualmente permanece como a mais poderosa milícia do Líbano.  

Seguidores de uma seita do islamismo xiita, os libaneses alauítas eram representados pela milícia dos Cavaleiros Vermelhos do Partido Democrata Árabe - agrupamento partidário pró-síria já que os alauítas dominam politicamente a Síria. Essa milícia atuou principalmente no norte do Líbano em torno de Trípoli.

Milícias sunitas
Algumas facções sunitas receberam apoio da Líbia e do Iraque e entre as inumeras pequenas milícias existentes, a mais proeminente foi o Movimento Tawhid, com bandeiras nacionalista, pan-arabista, nasserista e islâmica.

A principal organização sunita foi o Movimento al-Murabitun. Para compensar a fraqueza no campo de batalha, as lideranças sunitas apoiaram na guerra desde cedo a OLP de Yasser Arafat - dominada por palestinos sunitas, embora também tivesse um minoria cristã (principalmente grego-ortodoxa).

Drusos
O pequeno grupo étnico druso, estrategicamente encontrado na região do Chuf, não tinha aliados naturais e foi obrigado a construir alianças. Sob a liderança da família Jumblatt, primeiro com Kamal Jumblatt (líder do Movimento Nacional Libanês) e, depois, com seu filho Walid, o Partido Socialista Progressista (PSP) serviu como uma eficaz milícia drusa, construindo excelentes laços sobretudo com a União Soviética, com Israel após a sua invasão ao Líbano e com a Síria após a retirada israelense para o sul do país.

Grupos não-religiosos
Embora várias milícias libanesas se considerassem seculares, a maioria delas era mais um veículo de interesses sectários. Ainda assim, existiam alguns grupos não-religiosos de fato, sobretudo, mas não exclusivamente, de esquerda e/ou pan-arabistas de direita.

Exemplos disto foram o Partido Comunista libanês (PCL) e, os mais radicais e independentes, Organização para Ação Comunista (OAC). Outro exemplo importante foi o Partido Social Nacionalista Sírio (PNSS) que promoveu o conceito da Grande Síria, em contraste com o pan-arabismo e com o nacionalismo libanês. O PNSS era geralmente alinhado com o governo sírio.

Duas facções rivais do Partido Baath estavam também envolvidas nas fases iniciais da guerra: uma nacionalista, pró-iraquiana, liderada por Abdul-Majeed Al-Rafei (sunita) e Nicola Y. Firzli (cristão-ortodoxo grego), e uma marxista, "pró-síria", dirigida por Assem Qanso (xiita).

Palestinos
O movimento de libertação palestino transferiu a maior parte de sua luta para o Líbano no final de 1970, depois da expulsão da Jordânia, no caso conhecido como Setembro Negro. Principal movimento palestino, a Organização de Libertação da Palestina (OLP) era, sem dúvida, a mais forte milícia palestina no Líbano, mas com uma confederação de agrupamentos, seu líder Yasser Arafat revelou-se incapaz de controlar a facções rivais internas. Este enfraquecimento tanto na força operacional quanto na simpatia dos libaneses com a OLP, cuja imagem dentro do Líbano era de uma organização cada vez mais dominada por facções radicais cuja "ordem revolucionária comunista" revelava-se nada mais que a proteção de mafiosos. No final, a OLP era mantida unida mais pelos interesses compartilhados e das tentativas contínuas de Arafat de mediação intra-organizacional do que por qualquer estrutura organizacional coerente.

A principal corrente da OLP era o Fatah, do próprio Arafat, guerrilha de doutrina socialista. Entre os mais importantes grupos combatentes palestinos estavam a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), e sua dissidente, a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (DFLP). Como protagonistas menores, estavam a Frente de Libertação da Palestina (PLF) e uma outra dissidência, esta pró-síria, da FPLP, a Frente Popular para a Libertação da Palestina - Comando Geral (FPLP-CG). Para complicar, os rivais partidos baathistas da Síria e do Iraque criaram organizações fantoche dentro da OLP. O Sa'iqa-como foi uma sírio-milícia controlada, a par da Frente de Libertação Árabe sob comando iraquiano. O governo sírio podia também contar com as brigadas sírias do Exército de Libertação da Palestina (ELP), formalmente, mas que não funcionavam como um exército regular. Algumas unidades do ELP foram enviadas pelo Egito sob controle de Arafat, mas nunca desempenharam o mesmo papel dominante como a forte facção armada pelos sírios.

Em 1974, uma controversa proposta quase levou a ruptura da OLP. Conhecida como Programa dos Dez Pontos, essa proposta tinha sido desenvolvida por Yasser Arafat e o Fatah, no Conselho Nacional Palestiniano (PNC), e tinha como objetivo abrir caminho para uma solução para a causa palestina - com a criação de um Estado binacional secular e democrático. Sob furiosas acusações de traição, uma grande parte das facções linha dura e anti-Israel da OLP simplesmente sairam da organização. Com o apoio de iraquianos e, mais tarde, sírios e líbiios, eles formaram a Frente Rejeicionista, apoiando os princípios de uma linha sem comprometimento para com Israel. Entre os desertores estavam a FPLP, a FPLP-CG, a FLP, o as-Sa'iqa, a FLA e de vários outros grupos, além de haver certo descontentamento dentro do próprio Fatah. Arafat administraria conseqüentemente as diferenças dentro da organização, mas isso voltaria a assombrar-lo durante toda a década de 1970 e início dos anos 1980, e a divisão efetivamente impediu sua unidade organizacional em momentos cruciais do envolvimento da OLP na Guerra Civil Libanesa.
A OLP e o conflito libanês
Devido a grandes pressões políticas dos países árabes, que culminou na criação do Acordo do Cairo, idealizado pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser em 1969, o Líbano foi obrigado a permitir que uma força externa (a OLP) conduzisse operações militares contra Israel a partir do interior do território libanês. Embora inicialmente relutasse muito em assinar, o governo libanês viu este acordo como sua última esperança de recuperar o controle do país, através do qual foi acordado que os ataques seriam realizados em coordenação com o exército libanês. À OLP, foi concedida total controle sobre os campos de refugiados, mas logo a maior parte do sul do Líbano caiu sobre seu efetivo controle, em violação ao acordo. Assim que seus combatentes fugiram da Jordânia após o Setembro Negro, com a destruição do aparato da OLP neste país, a presença da organização tornou-se opressora para muitos dos habitantes destas áreas. As facções radicais operavam como se fossem a lei, o que rapidamente gerou atritos com os aldeões conservadores xiitas. Da mesma maneira que a OLP tinha perdido seu bom acolhimento na Jordânia, o apoio dos muçulmanos aos palestinos começou a sofrer desgaste no Líbano.

Uma parte significativa da oposição de esquerda também começou a evoluir dentro do Fatah, como os combatentes veteranos radicais da Jordânia começaram a verter em suas fileiras, para preocupação de Yasser Arafat. Ainda assim, o líder da OLP iniciou a construção de um "Estado dentro do Estado" ao sul do Líbano, criando uma base segura para estabelecer um quartel-general entre o Vale do Bekaa e o oeste de Beirute. Gradualmente, as autoridades libanesas foram se tornando irrelevantes. Os severos ataques israelenses impostos ao que já era denominado "Fatahlândia" não levaram a população civil xiita e cristã a admirar a guerrilha palestina. No entanto, a OLP era saudada por sunitas - que viam o movimento palestino como um aliado natural (devido ao sectarismo libanês) - e drusos. Uma amizade pessoal se desenvolveu entre Arafat e líder druso Kamal Jumblatt, que não só liderou a PSP, mas que também havia criado o Movimento Nacional Libanês (MNL). Muitas organizações da Frente Rejeicionista aderiram diretamente ao esquerdismo do MNL, seguidas de fato por porções da esquerda do Fatah. Mas Arafat relutava em confiar nestes grupos palestinos no que ele considerava como um conflito intra-libanês, temendo que a guerra colocasse o movimento palestino em um atoleiro dentro do Líbano e desnecessariamente afastasse potenciais aliados entre os cristãos e os seus aliados estrangeiros.

Primeira fase do conflito, 1975-77
Violência sectária e massacres civis
Durante toda primavera libanesa de 1975, confrontos sectários menores foram aumentando em direção a um conflito total, com o MNL lutando contra a Falange e um governo nacional cada vez mais fraco e oscilante entre a necessidade de manter a ordem e cuidar do seu círculo eleitoral. Na manhã de 13 de abril de 1975, pistoleiros não-identificados em um carro veloz dispararam contra uma igreja cristã em Ain El Rummaneh, no subúrbio a leste de Beirute, matando quatro pessoas, incluindo dois maronitas falangistas. Horas mais tarde, falangistas liderados por partidários da família Gemayel mataram 30 militantes palestinos que trafegavam em Ain El Rummaneh rumo ao campo de refugiados de Tel al-Zaatar, no episódio que ficou conhecido como o "Massacre do Ônibus".

Em 6 de dezembro de 1975, os assassinatos de quatro membros das Falanges levaram os líderes da mílicia de direita desencaderam uma furiosa reação que ficou conhecida como o "Sábado Negro". Os corpos de quatro falangistas foram encontrados em um carro abandonado próximo de uma propriedade à leste de Beirute. A reação foi imediata. As falanges criaram temporariamente barreiras em toda Beirute onde inspeccionavam os cartões de identificação de filiação religiosa dos que passavam. Muitos muçulmanos e palestinos que passavam através da barreiras foram mortas imediatamente. Adicionalmente, membros das falanges fizeram reféns e atacaram muçulmanos no leste da Beirute. Milícias pró-muçulmanos e palestinas retaliaram com força, aumentando o número de mortos em torno de 200 e 600 - entre civis e milicianos. A partir daí, os combates entre as milícias se intensificaram.

Na perversa espiral de violência sectária, a população civil foi um alvo fácil. Em 18 de janeiro de 1976, cerca de mil pessoas foram mortas pelas forças cristãs no Massacre de Karantina, imediatamente seguida por uma retaliação comandada por milícias palestinas em Damour. Aqueles habitantes que não conseguiram fugir para a aldeia foram abatidos a tiro ou mortos a facadas. Estes dois massacres levaram a um êxodo maciço de muçulmanos e cristãos, com a fuga em massa de pessoas amedontradas para áreas sob o controle de seu grupo sectário. A diversidade étnica e religiosa do formato das áreas residenciais da capital incentivou este processo. De leste a oeste, Beirute foi cada vez mais se transformando naquilo que foi, respectvamente, uma Beirute cristã e outra muçulmana. Além disso, o número de cristãos esquerdistas alinhados com o MNL e de muçulmanos conservadores dentro do governo central caiu acentuadamente, revelando que a guerra se tornava um conflito absolutamente sectário. Outro efeito dos massacres foi de trazer a Fatah de Yasser Arafat e, assim, a OLP para o lado do MNL, tal como o sentimento palestino era de completa hostilidade às forças libanesas cristãs.
Em junho de 1976, com combates ao longo de todo o país e os maronitas à beira da derrota, o presidente Suleiman Frangieh apelou para a intervenção da Síria no Líbano, alegando que o porto de Beirute seria fechado e que os sírios recebeu através dele uma grande parte dos seus bens.O governo da Síria respondeu com o término de sua associação prévia com os palestinos da Frente Rejecionista e começou a colaborar com o governo dominado pelos maronitas. Isto tecnicamente colocou do mesmo lado Síria e Israel, que já vinha auxiliando as forças maronitas com armas, tanques e conselheiros militares naquele ano. A Síria tinha seus próprios interesses políticos e territoriais no Líbano, fomenndo células islâmicas como a Irmandade Muçulmana anti-Baathista - onde cogitava uma possível via de ataque à Israel.

A pedido do presidente, tropas sírias entraram no Líbano, ocupando Trípoli e o Vale do Bekaa, facilmente removendo os milicianos palestinas e do MNL. Um cessar-fogo foi imposto, mas em última análise falhou em tentar parar o conflito, de forma que a Síria aumentou ainda mais à pressão. Com Damasco fornecendo armas, as forças cristãs conseguiram abriu caminho nas defesas do campo de refugiados de Tel al-Zaatar, no leste de Beirute, que há muito tempo estavam sob cerco. Desta invasão, resultou um novo massacre na cidade, que vitimou ao menos 2.000 palestinos e provocou fortes críticas à Síria no mundo árabe.

Em 19 de outubro de 1976, ocorreu a Batalha de Aishiya, quando uma força combinada da OLP e de uma milícia comunista atacou Aishiya, uma aldeia cristã isolada em uma zona maioritariamente muçulmana. O corpo de artilharia das Forças de Defesa de Israel dispararam 24 bombas (66 quilogramas de TNT cada) de unidades de campo de artilharia 175 milímetros fabricadas nos Estados Unidos, repelindo a primeira tentativa dos guerrilheiros. No entanto, a OLP e os milicianos comunistas retornaram à noite, quando a baixa visibilidade fez a artilharia israelense muito menos eficaz. A população cristã da aldeia fugiu e só regressou em 1982.

Ainda naquele mês, a Síria aceitou uma proposta de uma cúpula da Liga Árabe em Riad, que deu um mandato para manter 40 mil tropas sírias no Líbano como a maior parte dentro das forças de dissuasão árabes (FDA) designadas a desenredar os combatentes e restabelecer calma. Outras nações árabes também compuseram parte do FDA, mas eles perderam interesse relativamente cedo, e a Síria foi novamente deixada com o controlo exclusivo das forças, tendo agora a FDA utilizada como um escudo diplomática contra críticas internacionais. Neste momento, a Guerra Civil foi oficialmente encerrada e uma calma inquietante assentou-se sobre Beirute e a maior parte do Líbano. No sul, contudo, o clima começou a se deteriorar como conseqüência do gradual regresso dos combatentes da OLP, que tinham sido obrigados a desocupar a região central libanesa sob os termos dos Acordos de Riad.
O Líbano era efetivamente uma nação dividida. O sul e a metade ocidental de Beirute tornaram-se bases para a OLP e para milícias muçulmanas, enquanto que os cristãos controlavam o leste de Beirute e o Monte Líbano. Os sírios cuidavam do restante do país. A principal linha de confrontação na dividida Beirute ficou conhecida como a Linha Verde. Em Beirute Oriental, em 1977, líderes cristãos do Partido Nacional Liberal (PNL), do Partido Kataeb e do Partido da Renovação Libanesa ingressaram na Frente Libanesa, um grupo político para fazer frente ao Movimento Nacional Libanês. Suas respectivas milícias - os Tigres, as Falanges Libanesas e os Guardiões dos Cedros - formaram uma coalizão conhecida como Forças Libanesas, convertendo-se em uma ala militar da Frente Libanesa. Desde o início, o Kataeb e a Falange, sob a liderança de Bashir Gemayel, dominaram as FLs. Absorvendo ou destruindo completamente as milícias menores, ele tanto consolidou o controle das FLs como e o reforçou as forças cristãs.
Em março de 1977, Kamal Jumblatt, líder do Movimento Nacional Libanês foi assassinado, com amplas suspeitas de que tenha sido obra de agentes do governo sírio. Enquanto o papel de Jumblatt como líder do Partido Socialista Progressista, da facção drusa, foi surpreendentemente preenchido sem problemas pelo seu filho, Walid Jumblatt, o MNL se desintegrou após a sua morte. Apesar do pacto anti-governo, esquerdistas, xiitas, sunitas, palestinos e drusos continuavam juntos por mais algum tempo, até que seus interesses divergentes dilacerassem a unidade da oposição. Sentindo a oportunidade, Hafez al-Assad imediatamente procurou estabelecer mais discordâncias entre cristãos e muçulmanos, em um jogo de dividir para conquistar.
A onda de ataques de Organização para a Libertação da Palestina desde o sul do Líbano em direção à Israel, entre 1977 e 1978, levaram a uma escalada de tensões entre os dois países. Em 11 de Março de 1978, onze combatentes do Fatah desembarcaram em uma praia ao norte de Israel e seqüestraram (em trânsito) dois ônibus cheios de passageiros na estrada Haifa - Tel-Aviv, atirando nos veículos de passagem. Ao todo, os rebeldes palestinos mataram 37 e feriram 76 israelenses antes de serem mortos em um confronto com as forças israelitas.
Como resposta, tropas de Israel invadiram o Líbano três dias depois, em 14 de março, naquilo que ficaria conhecida como Operação Litani - primeira ofensiva de grande envergadura efetuada por suas Forças de Defesa durante a guerra civil no país vizinho. O exército israelense ocupou a maior parte da área ao sul do rio Litani. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, por meio da aprovação das Resoluções nº 425 e 426, pedia a imediata retirada das forças israelenses que ocupavam o território libanês e criava a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), que seria encarregada da manutenção da paz na região.
A zona de segurança
As forças israelenses retiraram-se da maior parte do território do Líbano ainda em 1978, mas mantiveram o controle do sul libanês, gerindo uma ampla "zona de segurança" de 12 milhas náuticas (19 km) ao longo da fronteira. Para manter estas posições, Israel estabeleceu o Exército do Sul do Líbano (ESL), uma milícia composta por cristãos e xiitas sob a liderança do major Saad Haddad. Além de armas e recursos, Israel forneceu ao ESL "conselheiros" para fortalecer e guiar a milícia aliada. O primeiro-ministro israelita Menachem Begin, do partido Likud, comparou a situação da minoria cristã no sul do Líbano (então cerca de 5% da população no território controlado pelo ESL) com a dos judeus em solo europeu durante a Segunda Guerra Mundial.
Sucederam-se violentos combates entre a OLP, Israel e o ESL. A organização palestina atacava posições dos milicianos aliados de Israel e disparava foguetes em direção ao norte israelense; as forças de Israel realizavam ataques aéreos contra posições da OLP no Líbano; os milicianos do ESL prosseguiam os seus esforços para consolidação o poder na região fronteiriça.
O Síria, entretanto, entrava em conflito com as Falanges Libanesas, uma milícia maronita liderada por Bachir Gemayel, cujas ações cada vez mais agressivas - tal como a sua tentativa, em abril de 1981, de capturar a estratégica cidade de Zahle, no centro da Líbano - tinham a intenção de frustrar o objetivo sírio de remover Gemayel e empossar Suleiman Frangieh como presidente. Conseqüentemente, os laços entre Israel e Bachir reforçaram-se consideravelmente. Em abril de 1981, por exemplo, durante combates em Zahle, Gemayel apelou à assistência israelense. O premiê israelita Begin respondeu em socorro ao líder maronita enviando caças que abateram dois helicópteros sírios. Isto levou à decisão do presidente sírio Assad de colocar mísseis terra-ar no contorno montanhososo de Zahle.
Em 17 de julho de 1981, aeronaves israelenses bombardearam edifícios em Beirute, onde ficavam escritórios de grupos associados à OLP. O representante libanês no Conselho de Segurança da ONU informou que 300 civis foram mortos e 800 feridos. O ataque aéreo levou à condenação internacional e a um embargo temporário dos Estados Unidos sobre a exportação de aviões de guerra para Israel.
Em agosto, primeiro-ministro israelense Menachem Begin foi reeleito e, em setembro, o premiê e seu ministro da defesa Ariel Sharon começaram a estabelecer planos para uma segunda invasão ao Líbano com a finalidade de expulsar a OLP. A intenção de Sharon era a de "destruir a infra-estrutura militar da OLP e, se possível, a própria liderança da organização; o que significava atacar Beirute Ocidental, onde foi localizado o quartel-general da OLP".
Sharon também desejava garantir a presidência de Bashir Gemayel. Em troca da ajuda israelense, Ariel Sharon esperava de Gemayel, uma vez instalado como presidente, a assinatura de um tratado de paz com Israel, presumivelmente estabilizadando para sempre a fronteira norte de Israel. Begin levou o plano de Sharon antes do recesso do Knesset em dezembro de 1981; porém, depois de levantadas fortes objecções, o primeiro-ministro sentiu-se forçado a deixar o plano de lado. Mas Sharon não desistiu da questão. Em janeiro de 1982, o ministro da defesa reuniu-se com Bachir Gemayel em um navio israelense ao largo da costa do Líbano e discutiu um plano "que levaria forças israelitas até o norte à beira do Aeroporto Internacional Beirute".Em fevereiro, com a anuência de Begin, o chefe da inteligência militar israelense Yehoshua Seguy foi enviado a Washington para discutir a questão do Líbano com o secretário de Estado Alexander Haig. No encontro, Haig "sublinhou que não poderia haver uma grande investida militar sem uma clara provocação", ou seja, um casus belli que fosse aceito pelo mundo.
Até aquele momento, não havia ocorrido uma "clara provocação" no Líbano. Na realidade, durante todo o período de eficácia do acordo de cessar-fogo no país, entre agosto de 1981 e maio de 1982, houve apenas um ataque de um foguete da OLP lançado do território libanês, em maio. O ataque teria sido uma retaliação a um bombardeio israelense no dia 9 de maio às posições da OLP no Líbano, que teria sido uma retaliação por si só um ataque à bomba da OLP em um ônibus em Jerusalém.Este evento particular destacava um problema central a partir da perspectiva israelense: o cessar-fogo aplica-se apenas à fronteira com o Líbano, o que significa que ataques da OLP a partir de outras localidades, como a Jordânia e a Cisjordânia, poderiam continuar (e continuaram) ininterruptamente, ao mesmo tempo que uma resposta israelense dirigida contra a OLP no Líbano seria tecnicamente uma violação do cessar-fogo.
Yasser Arafat recusou a condenar os ataques ocorridos fora do Líbano, argumentando que o cessar-fogo só valia dentro do terrítório libanês. A interpretação do líder palestino salientou o fato de que o acordo de cessar-fogo não era endereçado a resolução da violência em curso entre a OLP e Israel em outros palcos. Israel continuou assim a resistir aos ataques da OLP ao longo de todo o período de cessar-fogo. Ao mesmo tempo, os israelenses violaram os termos do cessar-fogo, cometendo "2125 violações do espaço aéreo libanês e 652 das águas territoriais libaneses" de agosto de 1981 a maio de 1982, incluindo o já mencionado ataque aéreo de 9 de maio e o bombardeio de 21 de abril à alvos da OLP no costa sul de Beirute.

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