sexta-feira, 28 de março de 2014

AÇÃO URGENTE - Anistia Internacional - Brasil




AÇÃO URGENTE

DOMÉSTICA SOB RISCO DE SER EXECUTADA

Uma empregada doméstica indonésia corre risco iminente de ser executada na Arábia Saudita. Ela pode ser executada já em 03 de abril, se a família da vítima não receber o diya solicitado("dinheiro de sangue"), até essa data.

Satinah Binti Jumadi Ahmad , uma empregada doméstica indonésia de 41 anos de idade, foi condenada à morte em 2010 pelo assassinato de sua patroa, uma mulher chamada Nura al-Garib, que foi morta em 26 de junho de 2007, na província central da Arábia Saudita Al-Qassim, ao norte da capital, Riad. Satinah Ahmad, trabalhadora migrante de Java Central, confessou ter matado Nura al-Garib, mas alegou que tinha feito isso em legítima defesa depois de meses de abuso físico e emocional por parte de sua patroa. Ela alegou que quando Nura al-Garib tentou quebrar-lhe a cabeça contra uma parede, ela bateu na mulher com um rolo de massa, e a matou. Relataram que Satinah Ahmad tinha roubado 37.970 riais sauditas (22.850 Reais) de seu empregador e fugiu da casa antes de ser presa.

A família de Nura al-Garib anunciou em julho de 2013 que iriam conceder Satinah Ahmad clemência pelo assassinato, se recebessem 7 milhões de riais (R$ 4.3 milhões de Reais) de diya (compensação financeira por morte ou "dinheiro de sangue"). A família teria se recusado a aceitar opagamento de 4 milhões de riais de diyaoferecido pelo governo indonésio.

A execução de Satinah Ahmad estava originalmente marcada para agosto de 2011, mas foi adiada várias vezes. O prazo para o diya a ser pago para a família é 03 de abril de 2014. Se o pagamento não for recebido até essa data, a execução será levada a cabo.
Por favor, escreva imediatamente em árabe, inglês ou no seu idioma:


    Instando o rei da Arábia Saudita a suspender aexecução de Satinah Binti Jumadi Ahmad e de todas as outras pessoas sentenciadas à morte no país;
    Pedindo para ele comutar essa sentença de morte e as de todos os outros na Arábia Saudita com urgência, a fim de abolir a pena de morte.


POR FAVOR, ESCREVA ANTES DE 3 ABRIL 2014 PARA:

Rei e Primeiro-Ministro
KingAbdullah bin Abdul Aziz Al Saud
TheCustodian of the two Holy Mosques
Officeof His Majesty the King
RoyalCourt, Riyadh
Reino daArábia Saudita
Fax:(via Ministry of the Interior)
+966 1403 3125 (favor insistir)
Tratamento: Your Majesty [Sua Majestade]

Ministro do Interior
HisRoyal Highness Prince Mohammed
binNaif bin Abdul Aziz Al Saud
Ministryof the Interior, P.O. Box 2933
Airport Road, Riyadh 11134
Reino da Arábia Saudita
Fax: +966 1 403 3125 (favor insistir)
Tratamento: Your Royal highness [SuaAlteza Real]

E cópias para :

Ministro da Justiça
His Excellency Shaykh Dr Mohammed binAbdulkareem Al-Issa
Ministry of Justice
University Street
Riyadh 11137
Reino da Arábia Saudita
Fax: + 966 1 401 1741/ +966 1 402 0311
Tratamento: HisExcellency [Sua Excelência]

Envie cópias para a representação diplomática noseu país:

Embaixada Real da Arábia Saudita
Sr. Hisham Bin Sultan Bin Zafir Alqahtani
Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário
SHIS QI 9 conjunto 9 casa18 - Lago Sul
CEP: 71.625-090 - Brasília / DF
Fax: (61) 3248-1142/3364-2499
E-mail: bremb@mofa.gov.sa
Tratamento: Exmo Sr Embaixador
Favor consultar o escritório da Anistia Internacional se quiser enviar os apelos após a data acima, pelo e-mail rau@anistia.org.br.
MAIS INFORMAÇÕES
A Arábia Saudita é um dos países onde mais ocorrem execuções no mundo: mais de 2.000 pessoas foram executadas lá entre 1985 e 2013.
A pena de morte é usada de maneira desproporcional contra estrangeiros na Arábia Saudita, particularmente os trabalhadores migrantes de países pobres e em desenvolvimento da África e Ásia. Os relatórios indicam que, em 2013, cerca de metade de todas as pessoas executadas eram estrangeiras. Em 2012, a Anistia Internacional registrou a execução de pelo menos 79 pessoas, das quais 27 eram estrangeiras. Em 2011, pelo menos 82 pessoas foram executadas, incluindo 28 estrangeiras, mais que o triplo do número de 27 do ano anterior, que incluía cinco estrangeiros. Em 2009, sabe-se de pelo menos 69 pessoas executadas no geral, incluindo 19 estrangeiros, e, em 2008, pelo menos 102, incluindo 39 estrangeiros.

Os processos judiciais naArábia Saudita estão muito aquém dos padrões internacionais para julgamentos justos. Os réus raramente recebem representação formal de advogados, e em muitos casos não são informados sobre o andamento dos processos judiciais contra eles. Eles podem ser condenados unicamente com base em "confissões"obtidas sob coação ou fraude. Os estrangeiros sem conhecimento da língua árabe - o idioma do interrogatório no pré-julgamento e audiências - muitas vezes não dispõe de serviços de interpretação adequados.
Sob as salvaguardas da ONUque garantem a proteção dos direitos das pessoas que enfrentam a pena de morte, deveria haver uma oportunidade adequada para defesa e recurso, e a imposição da pena de morte deveria ser proibida quando houver uma interpretação alternativa das provas.

Em relatório publicado em 2008 sobre o uso da pena de morte na Arábia Saudita, a Anistia Internacional destacou o amplo uso da pena de capital, bem como o número desproporcionalmente alto de execuções de estrangeiros de países em desenvolvimento. Para mais informações consulte Affront to Justice: Death Penalty in Saudi Arabia [Afronta à Justiça: Pena demorte na Arábia Saudita] (Índice: MDE 23/027/2008), 14 de outubro de 2008: http://www.amnesty.org/en/library/info/mde23/027/2008

A Anistia Internacional opõe-se àpena de morte em todos os casos, sem exceção, independentemente da natureza do crime, as características do infrator, ou o método utilizado pelo Estado para matar o prisioneiro.

Nome: Satinah Binti Jumadi Ahmad

Sexo: m/f: f

AU:74/14 Índice: MDE 23/007/2014 Data de Emissão: 26 de março de 2014

Acao Urgente AI 2


Anistia Internacional - Brasil
Praça São Salvador, n. 5 - Casa
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Brasil

quinta-feira, 27 de março de 2014

Ucrânia, o Golpe de Estado


O movimento de protesto (chamado "Euromaidán") que a Ucrânia viveu recentemente é interessante a vários títulos. Demonstra como com apoio estrangeiro e sem intervenção militar se pode fomentar com êxito um golpe de Estado civil contra um governo democraticamente eleito. Desvela a flagrante parcialidade e a falta de integridade dos meios de comunicação dominantes ocidentais que, com argumentos falaciosos, apoiam cegamente o intervencionismo ocidental, e com uma visão maniqueísta da situação qualificam uns de bons e os outros de maus. E, mais grave, esboça ainda os até agora etéreos contornos do renascimento da Guerra Fria, que se acreditava enterrada com a queda do muro de Berlim. Finalmente, oferece-nos uma provável projeção da situação dos países "primaverados", na medida em que a Ucrânia conheceu a sua "primavera" em 2004, primavera essa geralmente denominada por "revolução laranja".

Mas para compreender a atual situação da Ucrânia é primordial rever algumas datas importantes e os nomes dos principais atores da política ucraniana pós era soviética:

O movimento de protesto (chamado "Euromaidán") que a Ucrânia viveu recentemente é interessante a vários títulos. Demonstra como com apoio estrangeiro e sem intervenção militar se pode fomentar com êxito um golpe de Estado civil contra um governo democraticamente eleito. Desvela a flagrante parcialidade e a falta de integridade dos meios de comunicação dominantes ocidentais que, com argumentos falaciosos, apoiam cegamente o intervencionismo ocidental, e com uma visão maniqueísta da situação qualificam uns de bons e os outros de maus. E, mais grave, esboça ainda os até agora etéreos contornos do renascimento da Guerra Fria, que se acreditava enterrada com a queda do muro de Berlim. Finalmente, oferece-nos uma provável projeção da situação dos países "primaverados", na medida em que a Ucrânia conheceu a sua "primavera" em 2004, primavera essa geralmente denominada por "revolução laranja".

Mas para compreender a atual situação da Ucrânia é primordial rever algumas datas importantes e os nomes dos principais atores da política ucraniana pós era soviética:

Cronologia da política Ucraniana

1991: Ucrânia separa-se da URSS.
1991-1994: Leonid Kravtchouk (ex-dirigente da era soviética) é o primeiro presidente da Ucrânia.
1991: Julia Timochenko cria a "Companhia de Petróleo Ucraniano".
1992-1993: Leonid Koutchma (pró-russo) é o primeiro-ministro sob a presidência de Kravtchouk. Demitir-se-á em 1993 para se apresentar às eleições presidenciais do ano seguinte.
1994-1999:  Leonid Koutchma é o segundo presidente de Ucrânia.
1995: Julia Timochenko reorganiza a sua empresa para fundar, com a ajuda de Pavlo Lazarenko a companhia de distribuição de hidrocarbonetos "Sistemas Energéticos Unidos da Ucrânia" (SEUU)
1995: Pavlo Lazarenko é nomeado vice primeiro-ministro encarregado da energia.
1996: SEUU tem um volume de negócios de 10.000 milhões de dólares e obtém 4.000 milhões de lucros.
1996-1997: Pavlo Lazarenko é o primeiro-ministro sob a presidência de Koutchma.
1997: O presidente Koutchma desiste para Pavlo Lazarenko.
1998: A polícia suíça detém Lazarenko na fronteira franco-suíça e as autoridades de Berna acusam-no de branqueamento de dinheiro.
1999: Lazarenko é detido no aeroporto JFK de Nova Iorque. É condenado em 2004 por lavagem de dinheiro (114.000 milhões de dólares), corrupção e fraude.
1999-2005 Leonid Koutchma é presidente de Ucrânia após a sua reeleição.
1999-2001: Viktor Iouchtchenko é primeiro-ministro sob a presidência de Koutchma. Julia Timochenko é vice-primeiro ministro encarregue da energia (lugar que tinha sido ocupado por Lazarenko).
2001: O presidente Koutchma desiste a favor Julia Timochenko em Janeiro de 2001. Esta é acusada de "contrabando e falsificação de documentos" por ter importado fraudulentamente gás russo em 1996, quando era presidente da SEUU. Timochenko é detida e passa 41 dias na prisão. A justiça investiga a sua atividade no setor da energia durante a década de 1990 e a sua relação com Lazarenko.
2002-2005: Viktor Yanukovich (pró-russo), delfim de Koutchma, é primeiro-ministro sob a sua presidência.
A eleição presidencial opõe o primeiro-ministro Viktor Yanukovich e o ex primeiro-ministro e líder da oposição Viktor Yushchenko (pró-ocidental). Yanukovich ganha o segundo turno (49,46 contra 46,61%).
Discutem-se os resultados já que, segundo a oposição, as eleições são fraudulentas.
2004: Revolução Laranja: Movimento de protesto popular pró-ocidental generosamente apoiado por organismos ocidentais de "exportação" da democracia, particularmente americana. Considera-se Julia Timochenko a inspiradora do movimento. O principal resultado desta "revolução": anulação do segundo turno nas eleições presidenciais.
Organiza-se um terceiro turno das eleições: é eleito Viktor Yushchenko (51,99 contra el 44,19%).
2005-2010 Viktor Yushchenko é o terceiro presidente da Ucrânia.
2005 (7 meses): Julia Timochenko é a primeira-ministra sob a presidência de Yushchenko.
2006-2007: Viktor Yanukovich é o primeiro-ministro sob a presidência de Yushchenko.
2007-2010: Julia Timochenko é a primeira-ministra pela segunda vez sob a presidência de Yushchenko.
2010: Eleições presidenciais. Resultados do primeiro turno: primeiro, Yanukovich (35,32%); Segundo, Timochenko (25,05%) e quinto, Yushchenko (5,45%). Segundo turno: Yanukovich ganha a Timochenko (48,95% contra 45,47%).
2010-2014: Viktor Yanukovich é o quarto presidente de Ucrânia.
2011: Julia Timochenko é condenada a sete anos de prisão por abuso de poder nos contratos de gás assinados entre a Ucrânia e a Rússia em 2009.

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Linha do tempo política da Ucrânia

Um golpe de Estado plebiscitado pelo Ocidente 

O que aconteceu na Ucrânia nestes últimos dias foi um autêntico golpe de Estado. Na verdade, o presidente Viktor Yanukovitch foi democraticamente eleito em 7 de Fevereiro de 2010 ao ganhar de Júlia Timochenko no segundo turno das eleições presidenciais (48,95% contra 45,47% dos votos).

Evidentemente, Timochnko não aceitou imediatamente o veredito das urnas [1].
Seguramente que em alguma parte houve fraude já que ela era a primeira-ministra em exercício durante as eleições e Viktor Yushchenko era o presidente do país. As duas figuras emblemáticas da "revolução" laranja, amplamente apoiadas pelos países ocidentais, as mesmas pessoas que se supunha iriam fazer entrar a Ucrânia numa nova era, a da democracia e da prosperidade, foram folgadamente derrotados por um candidato pró-russo. E que candidato, Yanukovitch! A pessoa que tinha sido "assobiado" pelos ativistas da onda laranja de 2004. Em menos de seis anos os ucranianos compreenderam que esta colorida "Revolução" não era uma revolução.

Em 8 de Fevereiro de 2010, João Soares, presidente da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) declarou: "As eleições deram uma impressionante demonstração de democracia. É uma vitória para todo o mundo dada pela Ucrânia. Agora é o momento dos dirigentes políticos do país ouvirem o veredicto do povo e de fazerem com que a transição de poder seja pacífica e construtiva" [2].

Sem demasiada convicção mas perante a evidência do veredito dos observadores internacionais, Timochenko acabou por retirar o seu recurso judicial à invalidação do resultado das eleições [3].

Os "indignados" da praça Maidán reprovam Yanukovitch por ter decidido suspender um acordo entre o seu país e a União Europeia (UE). E aqui coloca-se uma pergunta fundamental: em democracia e no quadro das prerrogativas da sua função, um presidente em exercício tem direito a assinar os acordos que considere benéficos para o seu país? A resposta é afirmativa, tanto mais quando muitos especialistas acreditam que aquele acordo era nefasto para a economia da Ucrânia.

Assim, segundo David Teurtrie, Investigador do Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais (INALCO, Paris): "A proposta que se fez à Ucrânia era, o que eu chamaria, uma estratégia sem esperança. Por que razão? O acordo estabelecia uma zona de livre comércio entre a União Europeia (UE) e a Ucrânia. Mas esta zona de livre comércio era muito desfavorável à Ucrânia porque abria o mercado ucraniano aos produtos europeus e entreabria o mercado europeu aos produtos ucranianos, a maior parte dos quais não são competitivos no mercado ocidental. Por isso, a vantagem não era muito evidente para a Ucrânia. Em síntese, a Ucrânia tinha todas as desvantagens com esta liberalização do comércio com a UE e não conseguia qualquer vantagem" [4].

O economista russo Serguei Glaziev é da mesma opinião: "Todos os cálculos incluindo os dos analistas europeus, dão conta de uma desaceleração inevitável na produção de bens ucranianos nos primeiros anos após a assinatura do Acordo de Associação, já que estão condenados a uma perda de competitividade em relação aos produtos europeus" [5].

Não obstante a sensibilidade pró-russa de Yanukovitch, está claro que a proposta russa era muito mais interessante que a dos europeus. "A UE não promete a lua aos manifestantes… só a Grécia" é o irónico título do L’Humanité [6].

Depois dos sangrentos distúrbios de Kiev, curiosamente, muitos países ocidentais apressaram-se a dizer que estavam dispostos a apoiar "um novo governo" na Ucrânia [7], isto é, a reconhecer implicitamente o golpe de Estado. Em vez de avivar a violência e de financiar as barricadas, não deveriam estes países ter oferecido os seus bons ofícios para acalmar as coisas e esperar as eleições seguintes, tal como prescrevem os fundamentos da democracia que eles procuram exportar para a Ucrânia e outros lugares do mundo?

Alguns detalhes sobre a "Revolução Laranja"

A "revolução" laranja faz parte de uma série de revoltas batizadas de "revoluções coloridas" que se desenrolaram na década de 2000 nos países de Leste, sobretudo nas antigas repúblicas soviéticas. As da Sérvia (2000), da Geórgia (2003), da Ucrânia (2004) e Quirguizistão (2005) terminaram em mudanças de governo.

Num exaustivo e muito detalhado artigo sobre o papel dos Estados Unidos nas revoluções coloridas G. Sussman e S. Krader da Portland State University dizem resumidamente o seguinte: "Entre 2000 e 2005 os governos aliados da Rússia na Sérvia, na Geórgia, na Ucrânia e no Quirguizistão foram derrubados por umas revoltas sem efusão de sangue. Ainda que, de uma maneira geral, os meios de comunicação ocidentais finjam que estes levantamentos são espontâneos, indígenas e populares (poder do povo), as "revoluções coloridas" são de fato o resultado de uma vasta planificação. Os Estados Unidos em particular, e os seus aliados exerceram sobre os países pós comunistas um extraordinário conjunto de pressões e utilizaram financiamentos e tecnologias ao serviço da ajuda à democracia" [8].

Uma dissecação das técnicas utilizadas durante estas "revoluções" revela que todas têm o mesmo modus operandi. Criaram-se vários movimentos para dirigir estas revoltas: Otpor ("Resistência") na Sérvia, Kmara ("Basta!") na Geórgia, Pora ("É a hora") na Ucrânia e Kelkel ("Renascimento") no Quirguistão. O primeiro deles, Otpor, foi o que provocou a queda do regime sérvio de Slobodan Milosevic. Depois, este sucesso ajudou, aconselhou e formou todos os outros movimentos através de um departamento especialmente criado para esta tarefa, o Center for Applied Non Violent Action and Strategies (CANVAS) domiciliado na capital sérvia. O CANVAS prepara dissidentes imaturos de todo o mundo na aplicação da resistência individual não violenta, ideologia teorizada pelo filósofo e politólogo norte-americano Gene Sharp, cuja obra "From Dictatorship to Democracy" (Da ditadura à democracia) foi a base de todas as revoluções coloridas.

Manifestantes da da "revolução" laranja
Tanto o CANVAS como os diferentes movimentos dissidentes se beneficiaram da ajuda de muitas organizações norte-americanas de "exportação" da democracia como United States Agency for International Development (USAID), National Endowment Democracy (NED), International Republican Institute (IRI), National Democratic Institute for International Affairs (NDI), Freedom House (FH), Albert Einstein Institution e Open Society Institute (OSI). Estes organismos são financiados pelo orçamento norte-americano ou por capitais privados norte-americanos. A título de exemplo, o NED é financiado por um orçamento votado pelo Congresso norte-americano e os seus fundos são administrados por um conselho de administração onde está representado o Partido Republicano, o Partido Democrata, a Câmara de Comércio dos Estados Unidos e o sindicato American Federation of Labour-Congress of Industrial Organization (AFL-CIO), enquanto o OSI faz parte da Fundação Soros, cujo fundador é o bilionário e especulador financeiro George Soros. É também interessante dizer que o conselho de administração do IRI é presidido pelo senador John McCain, o candidato derrotado nas eleições presidenciais norte-americanos de 2008. O excelente documento que a jornalista francesa Mainon Loizeau dedicou às revoluções coloridas mostra claramente como McCain está implicado nelas [9]. Assim, compreende-se bem por que razão o senador se precipitou para Kiev a fim de apoiar os amotinados ucranianos. Também se compreende por que é que a Rússia endureceu o tom quando se refere às ONGs estrangeiras presentes no seu território e por que expulsou a USAID do seu território [10].

A relação entre o movimento ucraniano "Pora" e estas organizações norte-americanas é explicitada por Ian Traynor num excelente artigo publicado em TheGuardian, em Novembro de 2014 [11].

"Oficialmente o governo norte-americano gastou 41 milhões de dólares durante um ano para organizar e financiar a operação que permitiu desfazer-se de Milosevic […]. Na Ucrânia anda à volta dos 14 milhões de dólares", explica ele.

Julia Timochenko e Viktor Yushchenko são considerados as figuras destacadas da "revolução" laranja. Este movimento apoiado pelos ocidentais obteve a anulação da segunda volta das eleições presidenciais de 2004, que em princípio tinham sido ganhas por Viktor Yanukovich a Viktor Yushchenko. A "terceira" volta deu finalmente a vitória a Yushchenko, que se tornou no terceiro presidente da Ucrânia, para grande alegria dos norte-americanos e dos europeus.

Orgulhoso dos seus êxitos "revolucionários" coloridos, o belicoso senador McCain declarou que tinha proposto Viktor Yushchenko o seu homólogo georgiano pró-ocidental Mikhail Saakashvili como candidatos ao prémio Nobel da Paz [12]. Em Fevereiro de 2005 viajou até Kiev para felicitar o seu "pupilo" e possivelmente também para lhe mostrar que ele tinha alguma coisa a ver com a sua eleição.

Mal foi nomeado presidente, Yushchenko apressou-se a nomear primeira-ministra Julia Timochenko, mas a "lua de mel" entre os companheiros não durou muito tempo. Apesar de incensados pelo Ocidente o casamento Yushchenko-Timochenko não resultou e os seus resultados foram decepcionantes.

Justin Raimondo descreve assim o balanço do governo de Yushchenko (2005-2010): "Hoje, passado que foi há muito o brilho laranja da sua revolução, o seu regime mostrou ser tão incompetente e recheado de amiguismo como os seus corruptos e venais predecessores, se é que não é mais. Uma grande parte da "ajuda" monetária ocidental desapareceu […]. Pior, a economia está paralisada pela imposição do controlo dos preços e corrompida por um tráfico de influência descarado. O país desintegrou-se não só econômica mas também socialmente em consequência do acordo de partilha do poder entre Yushchenko e a volátil Julia Timochenko, a princesa do gás e amazona oligarca [...]. A queda radical da economia e os escândalos que se tornaram cotidianos do governo Yushchenko levaram a uma completa marginalização da veneranda laranja revolucionária: na primeira voltadas eleições presidenciais [2010] obteve uns humilhantes 5% dos votos. Fora da corrida e sem necessidade de mais simulações, Yushchenko lançou uma verdadeira bomba para a arena política ao homenagear Stepan Bandera, o nacionalista ucraniano e colaborador dos nazis como herói da Ucrânia [14].

Por último diga-se que as organizações norte-americanas de "exportação" da democracia também estiveram muito implicadas no que se chamou a "primavera" árabe (nota blog Anti-NOM: leia mais neste artigo "Falsas Revoluções Coloridas - Como Derrubar Governos com ONGs Globalistas"). Os jovens ativistas árabes foram formados na resistência individual, pelo CANVAS e na ciber-dissidência por organismos norte-americanos como Allience of Youth Movements (AYM, uma organização patrocinada pelo Departamento de Estado) e pelo gigantes norte-americanos das novas tecnologias como o Google, o Facebook ou o Twitter [15].

Os "amáveis" amotinados da praça Maidán

Apesar da enorme diversidade da "fauna" revolucionária que ocupou a praça Maidán em Kiev, os observadores coincidem no reconhecimento que a dissidência é composta por quatro grupos diferentes situados num espectro que vai da direita à extrema-direita.

Em primeiro lugar vem "Batkivshina" ou União Pan-ucraniana "Pátria", um partido político liderado por Julia Timochenko, secundada por Olexandre Turtchinov, um velho amigo considerado o seu "fiel' escudeiro [16]. Foi este último que foi nomeado presidente depois da partida de Yanukovitch.

Olexandre Turtchinov e Julia Timochenko
Fundado em 1999, Batkivshina é um partido liberal pró-europeu. É membro observador do Partido Popular Europeu (PPE) que reúne os principais partidos da direita europeia, entre eles a CDU (União Cristã-Democrata Alemã) da chanceler Angela Merkel. Diga-se que a Fundação Konrad Adenauer (Konrad Adenauer Stiftung), think-tank da CDU, também está filiada no PPE. Por outro lado, o PPE mantém estreitas relações com o International Republican Institute (IRI). Wilfied Martens, então presidente do PPE, apoiou John McCain nas eleições presidenciais de 2008 [17]. Naturalmente, como já dissemos, John McCain é sobretudo o presidente do conselho de administração do IRI.

Segundo um dos responsáveis do "Mejlis Of Crimean Tatar People", movimento associado ao partido "Pátria", o IRI está ativo na Ucrânia desde há mais de dez anos, isto é, desde a "revolução" laranja nunca abandonou o território [18].

Arseni Yatseniuk, personalidade pró-ocidental de primeiro plano da vida política ucraniana, é considerado "um líder guia dos protestos na Ucrânia". Um puro produto da "revolução" laranja (ocupou o cargo de ministro sob a presidência de Yushchenko), criou primeiro o seu próprio partido (Frente para a Mudança) antes de se ligar às fileiras de Batkivshina e de se aproximar de Timochenko. Yatseniuk, que acaba de ser nomeado primeiro-ministro, foi eleito pelos amotinados da praça Maidán. A sua missão é dirigir um movimento de união nacional antes das eleições presidenciais antecipadas previsivelmente para 25 de Maio de 2014 [20].

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Arseni Yatseniuk

O segundo partido implicado no violento protesto ucraniano é a UDAR (Aliança Ucraniana Democrática para a Reforma). Este partido, também liberal e pró-europeu, foi criado em 2010 pela união de dois partidos, um dos quais é o Pora, surgido do movimento de jovens que tinha sido a vanguarda da "revolução" laranja. A UDAR (que quer dizer golpe em ucraniano), é dirigido pelo boxeador e ex-campeão do mundo de pesos pesados, Vitali Klitschko (foro abaixo). Nascido no Quirguizistão, Klitschko é ucraniano mas viveu em Hamburgo e Los Angeles durante vários anos, e os seus três filhos têm a nacionalidade norte-americana por terem nascido nos Estados Unidos [21].

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Vitali Klitschko
Uma rápida visita à sua página web permite saber que a UDAR conta entre os seus parceiros estrangeiros o IRI (de McCain), o NDI (presidido por Madeleine K. Albright, ex-secretária de Estado estadunidense) e o CDU (de Merkel). Seja ainda dito que o IRI e o NDI são duas das quatro organizações satélite do National Endowment Democracy (NED).

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Os parceiros da UDAR
(foto retirada da página web oficial do partido)

Num relatório do German Foreign Policy intitulado "O nosso homem de Kiev" datado de Dezembro de 2013 pode ler-se a propósito de Klitschko e do seu partido: "De acordo com os relatórios de imprensa, o governo alemão gostaria que o campeão de boxe Vitali Klitschko aspirasse à presidência para o levar ao poder na Ucrânia. Deseja melhorar a popularidade da política da oposição organizando, por exemplo, aparições com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão. Para isso também está previsto que Klitschko se reúna com a chanceler Merkel na próxima cúpula da União Europeia em meados de Dezembro. Com efeito, a Fundação Konrad Adenauer não só apoiou massivamente Klitschko e o seu partido, a UDAR, mas também, segundo um político da CDU, o partido UDAR foi fundado na sequência de ordens diretas da fundação da CDU. Os relatórios sobre as atividades da fundação para desenvolver o partido de Klitschko mostram indícios de como os alemães influem nos assuntos da Ucrânia através da UDAR" [22]. Assim, a UDAR seria uma criação da CDU, o que explica a forte implicação da diplomacia alemã no "atoleiro" ucraniano. Muitos outros artigos confirmaram esta informação [23].

Um terceiro movimento participou na insurreição ucraniana pró-ocidental. Trata-se do "Svoboda" (“liberdade” em ucraniano), um partido da extrema-direita ultranacionalista dirigido por Oleg Tiagnibok. O Svoboda fez correr muita tinta devido à suas posturas xenófoba, anti-semita, homofóbica, anti-russa e anticomunista [24]. Este partido, aberto a todos os ucranianos de "linhagem pura", glorifica personagens históricos ucranianos abertamente fascistas e pró-nazis, como o tristemente célebre Stepan Bandera. Durante a Segunda Guerra Mundial Stepan Bandera lutou contra os soviéticos ao mesmo tempo que estabelecia relações com a Alemanha nazista [25]. Acrescente-se que o Svoboda está estritamente relacionado com uma organização paramilitar, os "Patriotas da Ucrânia" [26]. Considerada nazista, ela esteve muito ativa durante os recentes acontecimentos que ensanguentaram as ruas de Kiev.

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Oleg Tiagnibok
Estes três partidos fizeram uma aliança chamada "Grupo de Acão para a Resistência Nacional" com o objetivo de levar a cabo a desestabilização do governo de Yanukovich. Além disso, sabe-se que no parlamento ucraniano pós-Yanukovich foi criado uma nova coligação chamada "Opção Europeia", que reúne 250 deputados de diferentes grupos parlamentares, entre os quais se encontram Batkivtchina, UDAR e Svoboda [27].

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Os líderes do "Grupo de Ação para a Resistência Nacional": Klitschko, Tiagnibok e Yatseniuk
E para reforçar o novo poder sobre as instituições ucranianas, Oleg Mahnitsky acaba de ser nomeado Procurador-geral da Ucrânia, cargo de importância capital neste período de sobressaltos "revolucionários" e de evidentes acertos de contas "democráticos". Um pequeno detalhe: Mahnitsky é membro do partido Svoboda [28]. A cereja no cimo do bolo? No novo governo pós-Euromaidán largamente dominado pelo partido Batkivshina de Timochenko entregaram-se três pastas a membros do partido Svoboda: Olexandr Sych, vice Primeiro-ministro; Andriy Mokhnyk, ministro do Meio Ambiente e Oleksandr Myrnyi, ministro da Agricultura [29].

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Oleg Mahnitsky

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Oleksandr Sych

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Andriy Mokhnyk

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Oleksandr Myrnyi
Há uma outra nomeação que não passa despercebida neste governo: a de Pavel Sheremeta, que de 1995 a 1997 foi diretor de programa no Open Society Institute of Budapest, a famosa fundação de George Soros [30].

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Pavel Sheremeta
O quarto grupo presente na praça Maidán é provavelmente o mais violento. Conhecido pelo nome de "Pravy Sektor" (Setor da Direita), é a coligação de uma multitude de grupúsculos da extrema-direita radical e fascista que considera o Svoboda "demasiado liberal" (sic) [31]. Criado em Novembro de 2013 [32], é liderado por Dmitro Yarosh, chefe de uma organização de extrema-direita chamada "Trizub" (Tridente) com fama de ser o núcleo duro desta dissidência brutal [33]. Além do Trizub encontram-se aqui os "Patriotas da Ucrânia", a "Ukrainska Natsionalna Asambleya – Ukrainska Narodna Sambooborunu – UNA-UNSO" (Assembleia Nacional Ucraniana – Autodefesa Nacional Ucraniana) Bilyi Molot (Martelo Branco) e a ala radical do Svoboda [34].

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Dmitro Yarosh

Numa entrevista concedida à revista TIME publicada em 4 de Fevereiro de 2014 Yarosh declarou que "os seus grupos de soldados antigovernamentais em Kiev estão preparados para a luta armada" [33]. "Não somos políticos, somos soldados da revolução nacional", acrescentou. Há que dizer que o líder do Pravy Sekyor passou alguns anos no exército soviético e que para ele "a ”revolução nacional” é impossível sem violência e que deverá conduzir a um Estado “puramente ucraniano” com capital em Kiev" [36]. Na entrevista também revela que a sua coligação tinha armazenado um arsenal de armas letais. E detalha: "Justamente as suficientes para defender a Ucrânia dos ocupantes internos [ os membros do governo]".

Com efeito vêem-se em muitos vídeos e fotos militares de Pravy Sektor vestidos com uniformes militares treinando-se publicamente na praça Maidrán [37], metidos em escaramuças extremamente violentas com as forças da ordem ou usando armas de fogo contra os "Berkut" (forças antidistúrbio) [38].


Numa reportagem escrita de Kiev o jornalista britânico David Blair dá-nos o seu ponto de vista sobre a organização do Pravy Sektor: "O que está claro é que estão muito organizados. Aos voluntários das barricadas chega-lhes um provisionamento regular de máscaras de gás, comida e de excedentes de camuflagem do exército. Ex-soldados apresentam-se em formação de combate sem nada nas mãos em frente da tenda que serve de pequena base do Pravy Sektor na praça da independência de Kiev. Os voluntários descreveram um sistema de comando com vários dirigentes à frente de um heterogêneo exército implantado na barricada principal da rua Gruhevskogo de Kiev. O que muitas pessoas se interrogam é o que faria um grupo tão poderoso fora do controle dos políticos tradicionais triunfar a revolução e o governo cair [39].

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Milicias de autodefesa organizadas pelo grupo de
extrema-direita Pravy Sektor (Fonte: Le Monde)
Ninguém pode dizer que a revolução triunfou nem sequer que esta insurreição se pode considerar como tal. Mas o que é certo é que o governo na verdade caiu e foi nomeado Dmitro Yarosh como Adjunto do Presidente do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia [40], um organismo consultivo do Estado encarregado da Segurança nacional que depende do presidente do país. E quem é o presidente deste conselho? Nada mais nada menos do que Andriy Parubiy, "o comandante de Maidán" [41], "o chefe do Estado-Maior da revolução ucraniana" [42], que durante a "revolução" despiu-se de sua roupa de deputado do partido Batkivshchyna para vestir a de "generalíssimo" dos amotinados de Euromaidán. Mas o mais interessante é saber que Parubiy é um vira-casaca do partido Svoboda. Na verdade ele é co-fundador juntamente com Oleg Tiagnibok, em 1991, do Partido Nacional-Socialista da Ucrânia (SNPU), rebatizado de Svoboda em 2004 [43]. Isto demonstra que na Ucrânia as barricadas, os amotinados, a desobediência civil, a violência e o fascismo podem ir muito longe.

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Andriy Parubiy

Há que reconhecer que os acontecimentos de Kiev fizeram salivar um grande amante de guerras "sem gostar delas". Tal como um tubarão atraído pelo sangue, Bernard-Henri Levy (BHL), o famoso "rouxinol dos cemitérios" acorreu a Kiev encontrar-se com os amotinados. Mentindo descaradamente com todos os dentes que tem na boca, exclamou: "Não vi neonazis, não ouvi anti-semitas falar" [44].

Em contradição com o que afirma o "dandy" de camisas engomadas, vejamos o que diz a ucraniana Natalia Vitrenko, presidenta do Partido Socialista Progressista da Ucrânia: "No princípio [os líderes] eram os deputados da oposição Yatseniuk, Klintschko e Tiagnibok. Estas três pessoas encabeçavam Maidán. Mas depois foi o Pravy Sektor quem assumiu a direção. Desde meados de dezembro que a política em Maidán era decidida pelo Pravy Sektor, uma aliança de diversos partidos e movimentos neonazis. São grupos paramilitares, terroristas, muito bem treinados [45].

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Bernard-Henry Levy (BHL) posando na praça Maidán em Kiev
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Caricatura de "l’événement"
Mas a melhor resposta e a que está mais de acordo com o nível da declaração de Bernard-Henry Levy foi a da jornalista Irina Lebedeva: "ele [BHL] tem sorte, não há dúvida que os militantes do Svoboda e do Pravy Sektor, organizações que defendem a pureza racial, receberam instruções para não lhe tocar" [46].

Julia Timochenko: Loira ou Morena

A figura política ucraniana mais mediatizada pela imprensa ocidental dominante é sem qualquer dúvida Julia Timochenko. Tratada como uma personalidade histórica de uma dimensão desmedida, goza de elogiosos cognomes e, sobretudo, pomposos: a "Marianne da trança", a "princesa do gás", a "Joana d’Arc ucraniana" ou a "Dama de Ferro". Mas mesmo que alguns tenham visto uma estatueta de Joana d’Arc e as memórias de Margaret Tatcher em destaque no seu escritório [47], a sua trajetória está longe de ser virtuosa. De fato, a sua prática política tem mais a ver com as novelas de escândalos político-financeiros (mesmo mafiosos) que com a abnegação pela pátria e o povo ucraniano. Mas julguem-na os leitores.

A propósito de romances, comecemos por Olexandre Turtchinov que, ao que parece, é um verdadeiro romancista de "ficção científica". Na verdade, ele é o atual presidente da Ucrânia, foi qualificado de "fiel escudeiro" de Timochenko e, tal como ela, nasceu na cidade de Dnipropetovsk.

Julia Timochenko morena
Em 1994 Turtchinov criou com Pavlo Lazarenko, um notável de Dnipropetovsk, o partido Hromada de que Timochenko se tornaria presidente em 1997. Um ano depois, em 1995, a "Marianne da trança", tinha começado modestamente a sua carreira de dona de empresa com um empréstimo de 5.000 dólares, reorganiza a sua modesta "Companhia de Petróleo Ucraniano" (fundada em 1991) para fundar com a ajuda de Lazarenko a companhia de distribuição de hidrocarbonetos "Sistemas Energéticos Unidos da Ucrânia" (SEUU). Nesse mesmo ano Lazarenko é nomeado vice Primeiro-ministro da energia. Os resultados dispararam, seguramente empurrados por favores políticos da responsabilidade de Lazarenko: 10.000 milhões de dólares de volume de negócios e 4.000 milhões de lucros no ano de 1996! Tudo isto graças a contratos muito lucrativos ligados à venda na Ucrânia de gás russo [48]. Os anos de bonança continuam com a promoção de Lazarenko ao cargo de Primeiro-ministro em maio de 1996, apesar de ele ter escapado a um atentado à bomba apenas dois meses depois [49]. Em princípios de 1997 a SEUU controlava vários bancos, tinha participações em dezenas de empresas de metalurgia e de construção mecânica, era co-proprietária da terceira maior companhia aérea da Ucrânia e do seu segundo maior aeroporto, o de Dnipropetrovvsk, além de participar no desenvolvimento de gasodutos turcos e bolivianos e de controlar vários jornais locais e nacionais [50].

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Lazarenko e Timochenko

Dado que o enriquecimento "exponencial" costuma ser sinônimo de negócios escuros, começaram a levantar-se suspeitas à relação de Lazarenko com a SEUU. Em Abril de 1997 o New York Times informou que Lazarenko tinha participação nesta empresa. Saíram à luz do dia outros negócios e, em Julho desse ano, o presidente Koutchma demite Lazarenko. O que se segue é rocambolesco. Em 1998 a polícia suíça detém Lazarenko na fronteira franco-suíça, acusam-no de lavagem de dinheiro e libertam-no depois de pagar uma elevada fiança. Num artigo publicado em 2000 intitulado "As contas fantásticas do senhor Lazarenko", Gilles Gaetner fala de um desvio de dinheiro público ucraniano na ordem dos 800 milhões de dólares, "sem dúvida o caso mais importante de lavagem de dinheiro do pós guerra" [51]. Lazarenko foge para os Estados Unidos onde trata de obter asilo político, mas é detido em 1999. Ainda que tenham sido eleitos como membros do Hromada, depois dos dissabores de Lazarenko, tanto ele como Timochenko abandonam este partido em 1999 para criarem, juntos, o partido Batkivshina [52].

Perseguido pela justiça norte-americana, Lazarenko é condenado em 2006 a nove anos de cadeia por extorsão de fundos, lavagem de dinheiro e fraudes [53]. Um relatório de 2004 de "Transparency International Global Corruption" classifica Lazarenko como um dos dez dirigentes políticos mais corruptos do mundo [54]. Na justiça ucraniana corre um processo contra Lazarenko por assassinato do deputado Evguen Scherban e sua mulher em 1996. De acordo com a acusação o grupo de Scherban concorria com a SEUU e era um empecilho às suas atividades.

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Evguen Scherban

Lazarenko foi libertado em Novembro de 2013, tendo sido transferido para um centro de detenção de imigrantes, já que o seu visto tinha caducado [55].

A detenção de Lazarenko não diminui o oportunismo político de Timochenko. Quando Viktor Yushchenko acede ao cargo de Primeiro-ministro em 1999, ela é nomeada vice Primeira-ministra da energia, cargo que pertencera a Lazarenko meses antes. No entanto, o escândalo de Lazarenko acaba por salpicá-la e,em 2001, é acusada de "contrabando e falsificação de documentos" por ter importado fraudulentamente gás russo em 1996, quando era presidenta da SEUU [56]. Timochenko passa algumas semanas na cadeia [57]. Em 2002 é vítima de um grave acidente de trânsito que ela interpreta como uma tentativa de assassínio [58].

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Timochenko já loira mas ainda sem tranças

É nesta altura que muda de aspecto. Passa de morena a loira. "Julia muda o seu estilo de mulher de negócios sexy de cabelos soltos e saia-casaco justos por roupas mais recatadas como camisolas de gola alta e saia abaixo dos joelhos. Adopta o seu atual penteado, a famosa trança loira colocada como um diadema" [59].

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Timochenko com o seu novo visual
Em 2004 rebenta a revolução laranja e Timochenko converte-se na sua musa. Viktor Yushchenko sobe ao Supremo Tribunal em 2005 e ela, por duas vezes, ao cargo de Primeira-ministra. Como que por encanto, todas as acusações são esquecidas.

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O par Timochenko-Yushchenko
Um relatório ao Congresso norte-americano datado de 2005 divulgado pelo Wikileaks descreve assim a "princesa do gás": "Timochenko é uma líder energética e carismática com um estilo político combativo que fez uma campanha eficaz a favor de Viktor Yuschenko. No entanto, é uma personagem controversa devido à sua relação, em meados da década de 1990 com as elites oligárquicas, inclusive com o ex primeiro-ministro Lazarenko, que cumpre atualmente pena numa cadeia americana por fraude, lavagem de dinheiro e extorsão. Timochenko tanto exerce o cargo de chefe de uma empresa de negócio de gás como o de vice primeira-ministra de um governo notoriamente corrupto como o de Lazarenko. Diz-se ser extremamente rica […]. Foi depois objeto de uma investigação por corrupção e lavagem de dinheiro e esteve pouco tempo na cadeia. Depois da eleição de Viktor Yushchenko foram oficialmente retiradas todas as acusações. Pouco antes da campanha eleitoral a Rússia também interpôs oficialmente acusações de corrupção contra ela" [60].

A chegada ao poder do par Yuschenko-Timochenko (graças à onda laranja) permite a Turtchinov ocupar o posto de chefe dos serviços secretos ucranianos (SBU) em Fevereiro de 2005. Mas em 2006 tanto ele como o seu adjunto são objecto de uma investigação. São acusados de terem destruído o processo de um perigoso padrinho do crime organizado ucraniano, Semyon Mogilevich [61].

Este mafioso, suspeito de dirigir um vasto império criminal, é descrito, em 1998, pelo FBI como "o gangster mais perigoso do mundo" [62]. Uns meses depois as acusações foram estranhamente retiradas e inclusive conseguiu uma excelente promoção. Com efeito, no seu segundo mandato como primeira-ministra (2007), Timochenko atribui-lhe o cargo de vice Primeiro-ministro, função que ocupou até 2010, data em que Timochenko perde as eleições para Yanukovich.
As conflituosas relações do par Yushchenko-Timochenko dão o golpe de misericórdia em qualquer miragem da "revolução" laranja. Timochenko é acusada de ter atraiçoado o interesse nacional para preservar as suas ambições pessoais [63].

A chegada ao poder de Yanukovich acaba com a impunidade da candidata derrotada nas urnas e tira do armário o seu dossier judicial relativo a antigos e novos "negócios". Timochenko é acusada em vários processos judiciais: má utilização de fundos obtidos em 2009 com a venda de quotas de emissão de CO2, abuso de poder em 2009 com a assinatura de contratos de gás com a Rússia, considerados desfavoráveis para a o seu país, fraude fiscal e desvio de fundos relativos ao caso Lazarenko e responsabilidades próprias na gestão da empresa SEUU [64]. Mais grave é a acusação de ser cúmplice (com Lazarenko) no assassinato do casal Scherban (1996). Segundo o Procurador-geral Adjunto, "a vítima estava em conflito com Julia, que detinha então a distribuição de gás na Ucrânia e tentava obrigar as empresas da região industrial de Donetsk a comprar esta matéria-prima da sua empresa Sistemas Energéticos Unidos da Ucrânia (SEUU), graças ao apoio do Primeiro-ministro de então Pavlo Lazarenko. […] Evguen Scherban, um nome forte na região e cujo grupo empresarial era concorrente da sociedade de Julia Timochenko, opôs-se publicamente à expansão da SEUU e pagou isso com a sua vida [65]. E acrescenta "que havia testemunhos que ela e o Primeiro-ministro Pavlo Lazarenko pagaram pelos assassinato [de Scherban e e sua esposa]". Estas acusações eram reafirmadas por Ruslan, filho de Scherban, que sobreviveu ao assassinato dos seus pais. Numa conferência de imprensa declarou ter enviado documentos para o gabinete do Procurador-geral que implicavam os dois ex primeiros-ministros (Lazarenko e Timochenko) nos assassinatos. [66]

Timochenko também é suspeita de ser cúmplice de assassinato em outros casos, como do homem de negócios Alexander Momot (assassinado em 1996, alguns meses antes de Scherban) e do ex-governador do Banco Nacional da Ucrânia, Vadym Hetman (assassinado em 1998) [67].

Timochenko foi condenada a sete anos de prisão em Outubro de 2011 e encarcerada pela sua implicação no caso dos contratos de gás [68].

Os inesperados acontecimentos de Euromaidán tiraram a "princesa do gás" da masmorra. E de que maneira! Sábado, 22 de Fevereiro de 2014, pelas 12H08 horas, Turtchinov, o braço direito de Timochenko, é eleito presidente do parlamento ucraniano. Trinta minutos depois, como o mais urgente caso a tratar num país em insurreição, o parlamento vota a libertação "imediata" de Timochenko. A título de comparação, note-se que só às 16H19 horas este mesmo parlamento votou a destituição de Yanukovivh [69].

Com a nomeação do militante da extrema-direita Oleg Mahnitsky como Procurador-Geral e a de muitos membros do Partido Batkisshina para postos-chave do aparelho de Estado, é fácil prever que, pelo menos durante algum tempo, Timochenko não irá ter preocupações com os seus problemas judiciais.

Há que reconhecer que em duas ocasiões Timochenko foi arrancada das mãos da Justiça por perturbações sociais de grande amplitude, a "revolução" laranja em 2004 e agora o Euromaidán.

Como além do seu talento como novelista, o presidente Turtchinov também é pastor evangélico, será que foi a este título que salvou a amiga de toda a vida?

Mas "Kiev vale bem uma missa", não?

A descarada ingerência ocidental

A Euromaidán pode considerar-se uma "revolução" colorida, revista e corrigida com molho de "primavera" Árabe com aroma sírio. Ainda que se possam encontrar muitas semelhanças entre a "revolução" laranja e o Euromaidán, há que apontar diferenças fundamentais. A primeira, já anteriormente referida, é a violência das revoltas, que se deve essencialmente à omnipresença de manifestantes da extrema-direita fascista e neonazi. A "revolução" laranja baseava-se nas teorias não-violentas de Gene Sharp. A segunda diferença é a descarada presença de personalidades ocidentais, civis e políticas, na praça Maidán, arengando às massas e incitando à desobediência civil, em frontal contradição com o princípio fundamental da não-ingerência nos assuntos internos de um país soberano cujos dirigentes foram democraticamente eleitos.

Comecemos por John McCain, presidente do conselho de Administração do IRI que, em Kiev, está em terreno conhecido. Depois (e não durante) da "revolução" laranja viajou (em Fevereiro de 2005) para se entrevistar com os seus patrocinados, a quem tinha generosamente financiado.

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Yushchenko e McCain (Fevereiro de 2005)

O senador norte-americano também viajou aos países árabes "primaverisados": Tunísia (21 de Fevereiro de 2010), Egito (27 de Fevereiros de 2011), Líbia (22 de Abril de 2011) e Síria (27 de Maio de 2013). Nas duas primeiras viagens os governos já tinham caído. Nos dois últimos a batalha causava estragos (e continua a causá-los na Síria).

Em Kiev, McCain dirigiu-se aos rebeldes de Maidán a 14 de Dezembro de 2013: "Estamos aqui para apoiar a vossa justa causa, o direito soberano da Ucrânia a escolher livremente o seu destino e com total independência. E o destino que desejais está na Europa" aclarou [70].

Entrevistou-se com o "triunvirato de Maidán", isto é, com Yushchenko, Klitschko e Tiagnibok. Não teve problemas em posar com Tiagnibok apesar de a este último ter sido proibido de entrar nos Estados Unidos devido aos seus discursos anti-semitas [71]. Não corou minimamente ao lidar com o líder do Svoboda, um partido abertamente ultra-nacionalista, xenófobo e defensor dos valores neonazis, tal como não lhe importou apoiar os sanguinários terroristas da Síria e da Líbia. Por fim justifica os meios: o importante é arrebatar a Ucrânia do lado da Rússia.

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McCain à mesa com Klitschko, Yatseniuk y Tiagnibok (Dezembro de 2013)
A ingerência norte-americana também se vê claramente no "tema Nuland", demonstração clara que o vocabulário utilizado por alguns altos cargos políticos norte-americanos não tem nada a invejar do dos carroceiros, "Fuck the UE! [Que se fo… a União Europeia!], exclamou Nuland, o que diz muito da luta pela influência entre o Tio Sam e o velho continente.

E como chama Victoria Nuland, a subsecretária de Estado para a Europa e Eurásia aos líderes do Euromaidán? Yats e Klitsch? [72] Como "Jon" e "Ponch", da popular série norte-americana CHIPS? O mínimo que se pode dizer da utilização de uma linguagem tão à vontade é que isso demonstra uma familiaridade evidente, e uma conivência indesmentível entre os membros do triunvirato e a administração estadunidense.

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Tiagnibok, Victoria Nulan, Klitschko e Yatseniuk com indisfarçável alegria nos rostos
Além do IRI também o NED esteve presente em Kiev. Para constatar isso basta acompanhar Nadia Diuk que escreve a partir de Kiev e cujos artigos são publicados no Kivy Post e outros famosos jornais. Os títulos dos artigos são idílicos: "A revolução auto-organizada da Ucrânia" [73], "As visões do futuro da Ucrânia" [74], etc.. Já em 2004, em plena "revolução" laranja, a jornalista escrevia: "Na Ucrânia, uma liberdade indígena" [75], para demonstrar que a revolução era espontânea, o que contradiz todos os estudos (ocidentais) publicados depois. Há que rendermo-nos à evidência de que o conteúdo dos seus artigos não mudou muito com os tempos. E com razão, pois a senhora Diuk é vice-presidenta da NED, encarregada dos programas para a Europa, Eurásia, África, América Latina e Caribe [76].

Os relatórios anuais da NED mostram que, precisamente em 2012, o montante concedido a uns 60 organismos ucranianos se elevaram a quase 3,4 milhões de dólares [77]. Esse relatório indica que o IRI de McCain e o NDI de Albright beneficiaram de 380.000 e 345.000 dólares, respectivamente, para as suas actividades na Ucrânia.

Esta evidente implicação americana na Ucrânia foi assinalada por Serguei Glaziev, que declarou que os "estadunidenses gastam 20 milhões de dólares por semana para financiar a oposição e os rebeldes, incluindo armas" [78].

O segundo país ocidental largamente implicado no Euromaidán é a Alemanha. Doze dias antes de McCain, Guido Westerwelle, chefe da diplomacia alemã, teve um banho de multidão entre os manifestantes da praça Maidán, na companhia dos seus "protegidos", "Yats" e "Klitsch" ou de forma mais polida, Yatseniuk e Klitschko. Depois de se entrevistar com eles às portas fechadas declarou: "Não estamos aqui para apoiar um partido, mas para apoiarmos os valores europeus. E quando nos comprometemos com esses valores europeus naturalmente que nos agrada saber que a maioria dos ucranianos compartilha desses valores, e quer partilhá-los e seguir a via europeia" [79].

Por falar de maioria, certamente que Westerwelle não consultou as sondagens recentes que mostram que apenas 37% da população ucraniana é partidária da adesão do seu país á União Europeia [80]. Por outro lado, são cidadãos europeus? Não é tão seguro assim. Por exemplo uma sondagem recente demonstra que 65% dos franceses se opõe à ideia de uma ajuda financeira pela França e pela União Europeia à Ucrânia, e 67% está contra a entrada deste país na UE [81].

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Klitschko, Guido Westerwelle e Yatseniuk
Também a chanceler alemã, tal como o seu ministro, recebeu Yushenko e Klitschko em 17 de Fevereiro de 2014 em Berlim. O candidato em que aposta Merkel, a CDU e o seu think thank, a Fundação Konrad Adenauer, é Klitschko [82]. No entanto, o partido de Timochenko também é considerado aliado do PPE e da CDU, segundo afirmou Martens num discurso no Club da Fundação Adenauer, em 2011: "Julia Timochenko é uma amiga de confiança e o seu partido é um importante membro da nossa família política". Nesse mesmo discurso declarou que a sua postura era idêntica à de McCain quanto ao apoio a Timochenko (para a sua libertação da prisão) [83].

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Klitschko, Merkel e Yatseniuk

Seja dito que o sublinhar desta visão convergente entre o IRI e a Fundação Konrad Adenauer não é fortuita nem recente. Na verdade ela remonta à criação da NED, como nos explica Philip Agee, o antigo agente da CIA que abandonou a Agência para viver em Cuba [84]. Em primeiro lugar há que entender que a NED foi criada para assumir certas tarefas que originalmente pertenciam à CIA, neste caso a gestão dos programas secretos de financiamento da sociedade civil estrangeira. Depois de se consultarem com um largo leque de organizações nacionais e estrangeiras, as autoridades norte-americanas decidiram interessar-se pelas fundações dos principais partidos da Alemanha ocidental, financiadas pelo governo alemão: a Friederich Ebert Stiftung dos social-democratas e a Konrad Adenauer Stitfung dos democrata-cristãos. Atualmente encontramos uma estrutura análoga na paisagem política norte-americana. Os dois satélites da NED, o IRI e o NDI estão respectivamente relacionados com os partidos republicano e democrata norte-americanos e tal como os seus homólogos alemães são financiados por fundos públicos. Como a CIA colaborava com esses "Stiftungs" alemães para financiar movimentos em todo o mundo, muito antes da criação do NED em 1983 pelo presidente Reagan, as relações permaneceram sólidos até aos dias de hoje.

Se bem que mais discreto que os dois anteriores, o terceiro país implicado nos acontecimentos ucranianos é o Canadá. Este interesse é talvez devido ao fato de o Canadá albergar a maior diáspora ucraniana do mundo depois da Rússia. Mais de 1,2 milhões de canadienses são de origem ucraniana [85].

John Baird, ministro dos Negócios Estrangeiros canadense, teve uma entrevista com o triunvirato ucraniano em 4 de Dezembro de 2013 em Kiev, e, tal como os outros, fez uma "peregrinação" à praça Maidán. O chefe da diplomacia canadense voltou a Kiev em 28 de Fevereiro de 2014 para se encontrar com as novas autoridades: o presidente Turtchinov, o Primeiro-ministro Yatseniuk e a "Joana d’Arc" ucraniana. Perguntado sobre o seu apoio "incondicional" à Ucrânia e as suas consequências para as relações com a Rússia respondeu: "Certamente que não vamos pedir desculpa por apoiar o povo ucraniano na sua luta pela liberdade" [86]. Há que dizer que Paul Grod, o presidente dos ucranianos-canadianos (UCC) acompanhou Baird nas suas viagens. As suas posições são decalcadas das da diplomacia canadiana.

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Tiagnibok, Yatseniuk, Baird, Klitschko e Grod


As posições e reações de todos estes políticos nos deixam perplexos. Naturalmente, há de se lamentar as vidas perdidas durante esse sangrento conflito mas, que teriam eles feito se manifestantes violentos pertencentes a grupos extremistas tivessem ocupado o centro das suas capitais, matado membros das forças da ordem, sequestrado dezenas de policiais, ocupado serviços oficiais e alterado a ordem pública durante meses? Não terão estes políticos uma parte da responsabilidade pelo aumento do número de vítimas, por terem deitado lenha para a fogueira de Maidán?

Na França, por exemplo, o ministro do Interior, Manuel Valls, insurgiu-se em 22 de Janeiro contra uma manifestação de "Black Bloc" onde seis polícias foram feridos. Vejam os seus comentários: "Esta violência vinda da ultra-esquerda, esses Black-Bloc que são originários do nosso país mas também de países estrangeiros, é inadmissível e continuará a encontrar uma resposta particularmente determinada da parte do Estado". Depois de prestar homenagem "ao prefeito de Loire Atlântica, às forças da ordem que com grande sangue frio e profissionalismo contiveram essa manifestação" Manuel Valls acrescentou: "Não se podem admitir tais abusos" [87].

E os ucranianos devem aceitá-los? E como teria reagido a classe política francesa e ocidental se esses "Black Bloc" tivessem sido financiados, treinados ou apoiados por organismos políticos estrangeiros russos, chineses?

Deixo a resposta ao cuidado do leitor.

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Definitivamente, há que rendermo-nos à evidência de que o Euromaidán, tal como a "revolução" laranja, é um movimento largamente apoiado pelos departamentos ocidentais. Esta conclusão não deve apagar a realidade da corrupção de toda a classe política ucraniana. Fingir nos apresentar, como fazem os meios de comunicação social ocidentais, os "bons" com Timochenko e os "maus" com Yanukovich é uma visão distorcida da realidade. O governo de Yanucovich foi eleito democraticamente, os recentes acontecimentos foram sem qualquer dúvida um golpe de Estado.

Este golpe de Estado permitiu que os militantes da extrema-direita ucraniana, ultra-nacionalista, fascista e neonazi fizessem parte do novo governo da Ucrânia. Esta presença, abertamente apoiada pelos governos ocidentais, e nefasta para o futuro e a estabilidade do país. A apressada, controversa e incompreensível derrogação da lei "sobre as bases da política linguística do Estado" é um exemplo marcante [88].

Além disso, a aproximação "forçada" da Ucrânia à União Europeia e o seu correspondente afastamento da Rússia não é benéfica para o povo ucraniano. Segundo os especialistas ocidentais e não ocidentais a proposta russa é de longe muito mais interessante que a proposta conjunta da União Europeia e dos Estados Unidos, cuja única alternativa é oferecer ao país "a medicina do FMI" [89].

Ao contrário das piedosas vozes de Timochenko em Maidán, seria utópico pensar que a Ucrânia fará parte da União Europeia "em um futuro próximo" [90], devido à desastrosa situação de alguns países europeus, como a Grécia por exemplo. A "Marianne da trança" provavelmente não ouviu o ministro francês dos Assuntos Europeus Thierry Repentin. "Em todas as negociações para oferecer à Ucrânia um acordo de associação temos lutado duramente para retirar qualquer alusão a uma adesão à União Europeia. Nada de alterar a posição", declarou num artigo publicado o passado dia 3 de Fevereiro [91].

Se a Ucrânia não pode pretender uma adesão à União Europeia e os defensores ocidentais da sua "revolução" não estão dispostos a pagar a fatura, tudo parece indicar que este país é apenas um "cavalo de Tróia" para embaraçar a Rússia, que está a ganhar muita relevância e desenvoltura nos jogos internacionais, como se viu no conflito sírio. Uma forma como qualquer outra de abrir uma nova era de Guerra Fria. As revoltas na Crimeia e as ameaças de excluir a Rússia do G8 [92] são apenas o princípio.

Os ucranianos devem saber que estão condenados a viver em boa vizinhança com a Rússia, unidos por uma fronteira comum e laços históricos, comerciais, culturais e linguísticos.

Apesar de tudo, uma coisa é certa: o despertar "pós-revolucionário" será doloroso para os ucranianos.

Fontes:
- Blog Anti-NOM: Ucrânia, Autópsia de um Golpe de Estado (Correção, revisão e adaptação para português Brasil)

Este texto foi originalmente publicado em: 
Ahmed Bensaada: Ukraine: autopsie d’un coup d’éta
Tradução inicial por José Paulo Gascão:
- O Diário.info: Ucrânia, autópsia de um golpe de Estado (PDF)
Versão Espanhol:
- Ucrania, autopsia de un golpe de Estado

Referências:
* Marianne é o busto que representa a República Francesa
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[4] David Teutrie, «L'accord d'association de l'UE avec l'Ukraine est une stratégie perdant-perdant», Institut de la Démocratie et de la Coopération, 4 de Fevereiro de 2014, http://www.idc-europe.org/fr/-Accord-d-Association-avec-l-Ukraine-est-une-strategie-perdant-perdant-
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[6] Gaël De Santis, «Ukraine. L’UE ne promet pas la lune aux manifestants... juste la Grèce», L’Humanité, 24 de Fevereiro de 2014,
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[7] AFP, «Ukraine: Washington et Londres prêts à soutenir "un nouveau gouvernement"», Le Monde, 22 de Fevereiro de 2014,
http://www.lemonde.fr/europe/article/2014/02/22/ukraine-londres-pret-a-soutenir-un-nouveau-gouvernement_4371763_3214.html
[8] G. Sussman y S. Krader, «Template Revolutions: Marketing U.S. Regime Change in Eastern Europe», Westminster Papers in Communication and Culture, University of Westminster, Londres, vol. 5, n° 3, 2008, p. 91-112,
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[9] Manon Loizeau, «États-Unis à la conquête de l’Est», 2005. Pode ver neste enlace: http://www.ahmedbensaada.com/index.php?option=com_content&view=article&id=120:arabesque-americaine-chapitre-1&catid=46:qprintemps-arabeq&Itemid=119
[10] BBC , «Russia expels USAID development agency», 19 de Setembro de 2012, http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-19644897
[11] Ian Traynor, «US campaign behind the turmoil in Kiev», The Guardian, 26 de Novembro de 2004,
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[12] VOA, «Senator McCain Tells Ukrainians of Nobel Nomination for Yushchenko», 4 de Fevereiro de 2005, http://www.insidevoa.com/content/a-13-34-mccain-intvu-4feb2005/177965.html
[13] Arquivos do governo ucraniano, «Orange Revolution Democracy Emerging in Ukraine»,
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[14]. Justin Raimondo, «The Orange Revolution, Peeled», Antiwar, 8 de Fevereiro de 2010, http://original.antiwar.com/justin/2010/02/07/the-orange-revolution-peeled/
[15] Ahmed Bensaada, «Arabesque américaine: Le rôle des États-Unis dans les révoltes de la rue arabe», Éditions Michel Brûlé, Montréal (2011), Éditions Synergie, Alger (2012),
[16] Maud Descamps, «Ukraine: le nouveau président par intérim est un pasteur», Europe 1, 23 de Fevereiro de 2014,
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[17] DW, «McCain Feels the Love From European Conservatives», 4 de Setembro de 2008, http://www.dw.de/mccain-feels-the-love-from-european-conservatives/a-3618489-1
[18] Mikhail Mikhaylov, «Zair Smedlyaev: The Crimean Tatars should have self-autonomy», World and We, 10 de Julho de 2013,
http://www.worldandwe.com/en/page/Zair_Smedlyaev_The_Crimean_Tatars_should_have_selfautonomy.html#ixzz2uUeETy00
[19] Faustine Vincent, «Arseni Iatseniouk, leader phare de la contestation en Ukraine», 20 minutes, 28 de Janeiro de 2014,
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[20] AFP, «Ukraine: Iatseniouk, désigné premier ministre, face à une tâche herculéenne», Le Devoir, 26 de Fevereiro de 2014,
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[21] Centro Europeu para a Ucrânia Moderna, «Élections ukrainiennes –Informations», 10 de Outubro de 2012, http://www.modernukraine.eu/wp-content/uploads/2012/10/Elections-Ukrainiennes-Newsletter-7-10-octobre-2012.pdf
[22] German Foreign Policy, «Our Man in Kiev», 10 de Dezembro de 2013, http://www.german-foreign-policy.com/en/fulltext/58705/print
[23] Veja-se, por exemplo, Olivier Renault , «Ukraine: Klitchko, ou la construction d'un président par l'OTAN», La voix de la Russie, 24 de Janeiro de 2014, http://french.ruvr.ru/2014_01_24/Ukraine-Klitschko-ou-la-construction-dun-president-par-lOTAN-3540/
[24] Palash Ghosh , «Svoboda: The Rising Spectre Of Neo-Nazism In The Ukraine», International Business Times, 27 de Dezembro de 2012, http://www.ibtimes.com/svoboda-rising-spectre-neo-nazism-ukraine-974110
[25] Palash Ghosh, «Euromaidan: The Dark Shadows Of The Far-Right In Ukraine Protests», International Business Times, 19 de Fevereiro de 2014, http://www.ibtimes.com/euromaidan-dark-shadows-far-right-ukraine-protests-1556654
[26] Tadeusz Olszaski, «Svoboda Party – The New Phenomenon on the Ukrainian Right-Wing Scene», Centre for Eastern Studies, 4 de Julho de 2011, http://www.isn.ethz.ch/Digital-Library/Publications/Detail/?lng=en&id=137051
[27] Ria Novosti, «Ukraine: la coalition "Choix européen" créée au parlement», 27 de febrero de 2014, http://fr.ria.ru/world/20140227/200603490.html
[28] 62, «Rada appointed the new Attorney General», 24 de Fevereiro de 2014, http://www.62.ua/news/482461
[29] Katya Gorchinskaya, «Kyiv Post: The not-so-revolutionary New Ukraine Government», Novinite , 27 de Fevereiro de 2014,
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[30] IPO Forum, «Pavlo Sheremeta»,
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[34] Global Security, «Pravy Sektor / Praviy Sector (Right Sector)», 6 de Fevereiro de 2014, http://www.globalsecurity.org/military/world/ukraine/right-sector.htm
[35] Ver nota 31.
[36] Ibid.
[37] Le Parisien, «La tortue du Pravy Sektor 25/01/2014 Kiev Ukraine», 28 de Janeiro de 2014,
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[38] RT, «Acciones ilegales de 'manifestantes pacíficos' en Kiev», 18 de Fevereiro de 2014, http://www.youtube.com/watch?v=byAi0vMSSHs#t=34
[39] David Blair y Roland Oliphant, «As Kiev violence escalates, opposition leader says 'a foreign power' wants to divide Ukraine», The Telegraph, 25 de Janeiro de 2014,
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[40] Alexei Korolyov, «Commander' of Ukraine protests: Let parliament lead», USA TODAY, 27 de Fevereiro de 2014,
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[42] Roman Olearchyk, «Arseniy Yatseniuk poised to become Ukraine prime minister», Financial Times, 26 de Fevereiro de 2014,
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[43] Liga, «Andriy Parubiy», 28 de Fevereiro de 2014,
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[44] Euronews, «Ukraine: Bernard-Henri Levy parmi les opposants au Maïdan», 10 de Fevereiro de 2014, http://fr.euronews.com/2014/02/10/ukraine-bernard-henri-levy-parmi-les-opposants-au-maidan
[45] Natalia Vitrenko, «Ukraine: un putsch néonazi poussé par l'OTAN», Dailymotion, 25 de Fevereiro de 2014,
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[46] Irina Lebedeva , «Bernard-Henri Lévy: Harangues of Ignorant Buffoon», Strategic Culture Foundation, 15 de Fevereiro de 2014, http://www.strategic-culture.org/news/2014/02/15/bernard-henri-levy-harangues-of-ignorant-buffoon.html
[47] AFP, «Timochenko: dame de fer et "princesse du gaz"», La Libre, 22 de Fevereiro de 2014, http://www.lalibre.be/actu/international/timochenko-dame-de-fer-et-princesse-du-gaz-5308d0f335709867e404dc0b
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[49] Marta Kolomayets, «Lazarenko escapes assassination attempt», The Ukrainian Weekly, 21 de Julho de 1996,
1996,
http://www.ukrweekly.com/old/archive/1996/299601.shtml
[50] Ver nota 47.
[51] Gilles Gaetner, «Les comptes fantastiques de M. Lazarenko», L’Express, 1 de Junho de 2000, http://www.lexpress.fr/actualite/monde/europe/les-comptes-fantastiques-de-m-lazarenko_491978.html
[52] Ver nota 16.
[53] BBC, «Former Ukraine PM is jailed in US», 25 de agosto de 2006,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/5287870.stm
[54] Transparency International Global Corruption Report 2004, «World's Ten Most Corrupt Leaders», http://www.infoplease.com/ipa/A0921295.html
[55] Arielle Thedrel , «Ukraine: Ioulia Timochenko accusée de meurtre», Le Figaro, 22 de Janeiro de 2013,
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[56] Libération, «La vice-Première ministre ukrainienne limogée», 20 de Janeiro de 2001, http://www.liberation.fr/monde/2001/01/20/la-vice-premiere-ministre-ukrainienne-limogee_351716
[57] BBC, «Ukraine: opposition leader injured», 29 de Janeiro de 2002, http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/1788924.stm
[58] Marie Jégo, «Ioulia Timochenko, la "marianne à la tresse"», Le Monde, 24 de Fevereiro de 2014, http://www.lemonde.fr/europe/article/2005/09/09/ioulia-timochenko-la-marianne-a-la-tresse_687380_3214.html
[59] Ibid.
[60] Wikileaks, «CRS: Ukraines Political Crisis and U.S. Policy Issues», 1 de Fevereiro de 2005,
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[61] Ver nota 16.
[62] Robert I. Friedman , "The Most Dangerous Mobster in the World", The Village Voice, 26 de Maio de 1998, http://www.villagevoice.com/1998-05-26/news/the-most-dangerous-mobster-in-the-world/
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