terça-feira, 31 de dezembro de 2013






Feliz  Ano  Novo  .


                             Happy New Year.





Para  voces  e  seus  familiares ,  um  ótimo  ANO  NOVO ,  que  2014  seja  para  voces  algo  maravilhoso.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Como a Al Qaeda controla suas contas





 O comboio de carros com a bandeira negra da Al Qaeda veio em alta velocidade, e o gerente da modesta mercearia pensou que estava prestes a ser assaltado.

Mohamed Djitteye correu para fechar suas portas e se escondeu atrás do balcão. Ficou desconcertado quando um comandante da Al Qaeda gentilmente abriu a porta de vidro do estabelecimento e pediu um pote de mostarda. Depois, pediu o recibo.

Confuso e assustado, Djitteye não entendeu. Então, o jihadista repetiu o pedido. Por favor, poderia dar um recibo dos R$ 4 gastos?

Esta transação, no norte do Mali, mostra o que parece uma preocupação incomum para um grupo terrorista: a Al Qaeda é obcecada por documentar as mínimas despesas.

Em mais de 100 recibos deixados num prédio ocupado pela Al Qaeda no começo deste ano em Timbuktu, no Magreb islâmico, os extremistas registraram assiduamente seu fluxo de caixa, controlando despesas tão simples quanto a compra de uma lâmpada. As quantias, muitas vezes pequenas, eram cuidadosamente anotadas a lápis e canetas coloridas em pedaços de papel e post-its: cerca de R$ 4 por um sabão, R$ 19 por um pacote de macarrão, R$ 33 por supercola. Todos os documentos foram autenticados por especialistas e podem ser vistos neste endereço .

O sistema de contabilidade demonstrado nos documentos encontrados pela Associated Press é um espelho do que pesquisadores descobriram em outras partes do mundo onde a rede terrorista opera, incluindo o Afeganistão, a Somália e o Iraque. Os documentos do grupo terrorista ao redor do mundo também incluem programas de cursos corporativos, planilhas de salário, orçamentos de filantropia, currículos de emprego, conselhos de relações públicas e cartas do equivalente a um departamento de recursos humanos.

As evidências reunidas sugerem que, longe de ser uma organização fragmentada e improvisada, a Al Qaeda tenta se comportar como uma corporação multinacional, com o que se compara a uma política financeira consistente de uma empresa em suas diferentes filiais.

"Eles precisam organizar sua contabilidade devido à natureza do seu negócio", disse William McCants, bolsista da Brookings Institution e ex-conselheiro do departamento de contraterrorismo dos Estados Unidos. "Eles têm muito poucas formas de controlar seus agentes, de discipliná-los e de fazer com que cumpram o que devem fazer. Precisam gerir tudo como um negócio."

A imagem que surge do que é um dos maiores repositórios de documentos da Al Qaeda já tornados públicos é a de uma burocracia rígida, dotada de um presidente, um conselho de diretores e departamentos como os de recursos humanos e relações-públicas. Os especialistas dizem que cada filial do grupo terrorista repete a mesma estrutura corporativa, e que esse projeto estrito ajudou a Al Qaeda não apenas a durar como também a se expandir.

Entre os documentos mais reveladores estão os recibos, que oferecem uma visão granular de como os combatentes da Al Qaeda vivem no dia-a-dia, bem como de suas prioridades.

Um número imenso dos recibos é de alimentos, sugerindo uma dieta à base de macarrão com carne e molho de tomate, bem como grandes quantidades de leite em pó. Há 27 recibos de carne, 13 de tomates, 11 de leite, 11 de massa, sete de cebolas e muitos outros de chá, açúcar e mel.

Estão registrados o bolo de R$ 1,50 comido por um dos seus combatentes e o sabão de R$ 4 que outro usou para lavar as mãos. Essas quantias relativamente pequenas são anotadas com o mesmo cuidado que o adiantamento de R$ 12.700 pago a um comandante ou os R$ 800 usados para comprar 3.300 cargas de munição.

O cuidado com as despesas faz parte do DNA da Al Qaeda, segundo especialistas que incluem agentes do FBI designados para investigar o grupo logo após sua fundação. O hábito vem de há quase quatro décadas, quando um jovem Osama Bin Laden entrou na universidade Rei Abdul Aziz, na Arábia Saudita, para estudar economia em 1976, e de lá saiu para dirigir parte da milionária empreiteira de seu pai.

Depois de ser exilado no Sudão, em 1992, Bin Laden fundou o que se tornaria o maior conglomerado do mundo. Suas empresas e numerosas subsidiárias investiram em tudo, da importação de caminhões à exportação de papoula, milho branco e melancias. Desde o início, Bin Laden era obcecado em aplicar técnicas de administração corporativa aos seus mais de 500 empregados, segundo o especialista em Al Qaeda Lawrence Wright.

Os funcionários precisavam apresentar requisições em três vias até para as menores compras - a mesma exigência, diz Wright, que Bin Laden impôs mais tarde aos primeiros recrutas da Al Qaeda.

No Afeganistão, registros contábeis detalhados encontrados num acampamento da Al Qaeda em 2001 incluíam listas de salários, documentos de cada combatente, formulários de recrutamento de emprego que perguntavam pelo grau de instrução e habilidades linguísticas, bem como vários cadernos de despesas. No Iraque, as forças dos EUA encontraram diversas planilhas de Excel que detalhavam os salários dos combatentes.

"As pessoas acham que isso é anotado em qualquer pedaço de papel. Não é", diz Dan Coleman, ex-agente especial do FBI que cuidou do caso Bin Laden entre 1996 e 2004.

Um dos primeiros ataques a uma casamata da Al Qaeda foi liderado por Coleman em 1997. Entre as dezenas de recibos que encontrou no local, no Quênia, estavam pilhas de recibos de combustível, acumuladas durante oito anos.

RELATÓRIOS DE DESPESAS COM TERRORISMO

Este sistema detalhado de contabilidade também permite controlar os movimentos dos próprios terroristas da rede, que muitas vezes operam de maneira remota.

A maioria dos recibos encontrados num chão de cimento num prédio no Timbuktu é escrita à mão, em notas de post-it, em papel pautado ou em envelopes, como se os agentes de campo usassem quaisquer superfícies de escrita que pudessem encontrar. Outros são digitados, às vezes repetindo os mesmos ítens, no que pode servir como relatórios formais para os escalões superiores. Numa carta encontrada entre os documentos, gerentes cobram um terrorista por não ter prestado contas suas no prazo.

Em mercados informais a céu aberto, como os do Timbuktu, os vendedores não têm notas fiscais para entregar. Então, dizem os comerciantes, os membros da Al Qaeda vêm em duplas. Um para negociar a compra, o outro para anotar os preços numa caderneta. A prática se reflete no fato de que quase todos os recibos estão escritos em árabe, uma língua escrita por poucos moradores da região.

Os combatentes perguntavam o preço e depois escreviam em seus Bloc Notes, uma marca de caderneta vendida no local, segundo o farmacêutico Ibrahim Djitteye.

"No começo eu fiquei surpreso", ele disse. "Mas cheguei à conclusão de que eles têm uma missão muito específica... e, nesses casos, é preciso fazer relatórios."

A natureza corporativa da organização também aparece nos tipos de atividades pelos quais eles pagam.

Por exemplo, dois recibos, um no valor de R$ 8 mil e outro no valor de R$ 14 mil, aparecem como pagamento por "workshops", outro conceito tomado do mundo dos negócios. Um folheto encontrado em outro prédio ocupado por seus combatentes confirma que a Al Qaeda promove o equivalente a encontros de treinamento corporativo. Toda manhã, exercícios das 5h às 6h30; aula sobre como usar um GPS das 10h às 10h30; treinamento de tiro das 10h30 ao meio-dia; à tarde, lições sobre como pregar a outros muçulmanos, sobre nacionalismo e sobre democracia.

São relativamente poucos os recibos de pagamentos por combatentes e armas. Uma unidade apresentou um pedido muito educado de recursos, com o título "A lista dos nomes dos mujahedins que pedem roupas e botas para se proteger do frio".

Muitos mais lidam com os aspectos do dia-a-dia da administração estatal, como a tarefa de manter a luz ligada. A Al Qaeda do Magreb Islâmico invadiu o Timbuktu em abril de 2012, e tomou conta de seus serviços públicos estatais, pagando para receber combustíveis vindos da Argélia. Um recibo mostra que eles pagaram quase R$ 9 mil por 20 barris de diesel para a estação de energia da cidade.

Também há um adiantamento para a prisão e um orçamento detalhado do Tribunal Islâmico, onde os juízes recebiam R$ 5 por dia para ouvir casos.

Além do dia-a-dia do governo, fica claro que os combatentes tentavam ativamente conquistar a população. Eles separam dinheiro para a caridade: R$ 9 para comprar remédios "para um xiita com o filho doente", R$ 240 para contribuir com a cerimônia de casamento de um homem. E eles reembolsavam prejuízos dos moradores, como R$ 120 para consertar uma casa, com uma nota informando que o imóvel "foi atingido por carros de mujahedins".

E fica claro que os combatentes passavam boa parte do tempo fazendo proselitismo, com relatórios de despesas com viagens a aldeias distantes para pregar sua visão extrema do Islã. Um recibo fala abertamente em gastos de R$ 480 com uma "viagem para espalhar propaganda".

Embora não seja abertamente explicado, os razoáveis recibos de conserto de carros sugerem missões regulares no deserto. Os muitos recibos de troca de óleo, compra de baterias, filtros e autopeças indicam o terreno difícil onde circulam os Land Cruisers do grupo.

Finalmente, os nomes nos recibos revelam que a maioria dos combatentes na folha de pagamento do grupo eram estrangeiros. Há um adiantamento de R$ 2.400 para um homem identificado como "Talhat Líbio". Outro é endereçado a "Tarek Argelino".

Os nomes também confirmam que os mais altos líderes da Al Qaeda no Magreb Islâmico estavam baseados no Timbuktu. Entre eles está Abou Zeid, provavelmente o mais temido comandante local da Al Qaeda, que orquestrou os sequestros de dezenas de ocidentais até sua morte no primeiro semestre.

"Em nome de Alá misericordioso", diz um pedido de recursos com data de 29 de dezembro de 2012 e dirigido a Abou Zeid, "escrevemos para lhe informar de que precisamos de foguetes para nosso acampamento - são necessários um total de 4. Que Deus o proteja."

A extensão da documentação encontrada aqui e nos outros teatros onde opera a Al Qaeda não significa, porém, que o grupo terrorista dirija uma máquina bem azeitada, alerta Jason Burke, autor do livro Al Qaeda."

"A burocracia, como sabemos, dá aos altos gerentes a ilusão de que podem controlar seus subordinados mais distantes," disse Burke. "Mas essa influência é muito, muito menor do que eles gostariam."

As práticas contábeis da Al Qaeda deixaram uma forte impressão em ao menos uma pessoa no Timbuktu: Djitteye, o gerente da loja de conveniência.

O comandante que veio comprar mostarda era Nabil Alqama, o líder da Al Qaeda no "Comando Sul" do Magreb Islâmico. Ele virou freguês da loja. Um dia, ele pediu que o vendeiro mandasse imprimir um talão de notas para poder ter recibos com uma aparência mais oficial.

Djitteye cumpriu o pedido.

O talonário verde e bem diagramado está sob sua caixa registradora. Atualmente, sempre que os clientes entram, ele pergunta se querem um recibo.

Ninguém quer.


RUKMINI CALLIMACHI
DA ASSOCIATED PRESS, EM TIMBUKTU (MALI)

sábado, 28 de dezembro de 2013

Armas Taurus em três pagamentos iguais na Sears .




 Armas em oferta na Sears em 6 de janeiro de 1985: 


“Passe suas férias com segurança. Toda a linha de armas Taurus em três pagamentos iguais pelo preço à vista.
  
  
 Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!”  .



Parece  que  as  coisas  mudam .



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

EDWARD SNOWDEN . CARTA ABERTA AO POVO DO BRASIL

EDWARD SNOWDEN

 

 CARTA ABERTA AO POVO DO BRASIL
EDWARD SNOWDEN

 

Seis meses atrás, emergi das sombras da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA para me posicionar diante da câmera de um jornalista. Compartilhei com o mundo provas de que alguns governos estão montando um sistema de vigilância mundial para rastrear secretamente como vivemos, com quem conversamos e o que dizemos.

Fui para diante daquela câmera de olhos abertos, com a consciência de que a decisão custaria minha família e meu lar e colocaria minha vida em risco. O que me motivava era a ideia de que os cidadãos do mundo merecem entender o sistema dentro do qual vivem.

Meu maior medo era que ninguém desse ouvidos ao meu aviso. Nunca antes fiquei tão feliz por ter estado tão equivocado. A reação em certos países vem sendo especialmente inspiradora para mim, e o Brasil é um deles, sem dúvida.

Na NSA, testemunhei com preocupação crescente a vigilância de populações inteiras sem que houvesse qualquer suspeita de ato criminoso, e essa vigilância ameaça tornar-se o maior desafio aos direitos humanos de nossos tempos.

A NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa própria "segurança" --em nome da "segurança" de Dilma, em nome da "segurança" da Petrobras--, revogaram nosso direito de privacidade e invadiram nossas vidas. E o fizeram sem pedir a permissão da população de qualquer país, nem mesmo do delas.

Hoje, se você carrega um celular em São Paulo, a NSA pode rastrear onde você se encontra, e o faz: ela faz isso 5 bilhões de vezes por dia com pessoas no mundo inteiro.

Quando uma pessoa em Florianópolis visita um site na internet, a NSA mantém um registro de quando isso aconteceu e do que você fez naquele site. Se uma mãe em Porto Alegre telefona a seu filho para lhe desejar sorte no vestibular, a NSA pode guardar o registro da ligação por cinco anos ou mais tempo.

A agência chega a guardar registros de quem tem um caso extraconjugal ou visita sites de pornografia, para o caso de precisarem sujar a reputação de seus alvos.

Senadores dos EUA nos dizem que o Brasil não deveria se preocupar, porque isso não é "vigilância", é "coleta de dados". Dizem que isso é feito para manter as pessoas em segurança. Estão enganados.

Existe uma diferença enorme entre programas legais, espionagem legítima, atuação policial legítima --em que indivíduos são vigiados com base em suspeitas razoáveis, individualizadas-- e esses programas de vigilância em massa para a formação de uma rede de informações, que colocam populações inteiras sob vigilância onipresente e salvam cópias de tudo para sempre.

Esses programas nunca foram motivados pela luta contra o terrorismo: são motivados por espionagem econômica, controle social e manipulação diplomática. Pela busca de poder.

Muitos senadores brasileiros concordam e pediram minha ajuda com suas investigações sobre a suspeita de crimes cometidos contra cidadãos brasileiros.

Expressei minha disposição de auxiliar quando isso for apropriado e legal, mas, infelizmente, o governo dos EUA vem trabalhando arduamente para limitar minha capacidade de fazê-lo, chegando ao ponto de obrigar o avião presidencial de Evo Morales a pousar para me impedir de viajar à América Latina!

Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir com minha capacidade de falar.

Seis meses atrás, revelei que a NSA queria ouvir o mundo inteiro. Agora o mundo inteiro está ouvindo de volta e também falando. E a NSA não gosta do que está ouvindo.

A cultura de vigilância mundial indiscriminada, que foi exposta a debates públicos e investigações reais em todos os continentes, está desabando.

Apenas três semanas atrás, o Brasil liderou o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas para reconhecer, pela primeira vez na história, que a privacidade não para onde a rede digital começa e que a vigilância em massa de inocentes é uma violação dos direitos humanos.

A maré virou, e finalmente podemos visualizar um futuro em que possamos desfrutar de segurança sem sacrificar nossa privacidade.

Nossos direitos não podem ser limitados por uma organização secreta, e autoridades americanas nunca deveriam decidir sobre as liberdades de cidadãos brasileiros.

Mesmo os defensores da vigilância de massa, aqueles que talvez não estejam convencidos de que tecnologias de vigilância ultrapassaram perigosamente controles democráticos, hoje concordem que, em democracias, a vigilância do público tem de ser debatida pelo público.

Meu ato de consciência começou com uma declaração: "Não quero viver em um mundo em que tudo o que digo, tudo o que faço, todos com quem falo, cada expressão de criatividade, de amor ou amizade seja registrado. Não é algo que estou disposto a apoiar, não é algo que estou disposto a construir e não é algo sob o qual estou disposto a viver."

Dias mais tarde, fui informado que meu governo me tinha convertido em apátrida e queria me encarcerar. O preço do meu discurso foi meu passaporte, mas eu o pagaria novamente: não serei eu que ignorarei a criminalidade em nome do conforto político. Prefiro virar apátrida a perder minha voz.

Se o Brasil ouvir apenas uma coisa de mim, que seja o seguinte: quando todos nos unirmos contra as injustiças e em defesa da privacidade e dos direitos humanos básicos, poderemos nos defender até dos mais poderosos dos sistemas.

Tradução de CLARA ALLAIN

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Deep Web





Em poucos meses, o mundo começou a ouvir falar com mais frequência sobre a existência de um mercado de drogas e armas na internet chamado Silk Road. Ao mesmo tempo, se familiarizou com o nome da moeda criptografada usada nesse comércio, o Bitcoin. Investigar a origem de cada um resultaria em uma terceira descoberta: a Deep Web (ou internet profunda).


O ator e diretor britânico Alex Winter já havia feito um documentário sobre o Napster (chamado Downloaded), outro elemento virtual que incomodou as autoridades ao permitir a troca gratuita de músicas pela rede. Agora, Winter prepara o lançamento de um documentário sobre a razão dos incômodos mais recentes, intitulado Deep Web: The Untold Story of Bitcoin and The Silk Road (“A história não contada do Bitcoin e do Silk Road”, em tradução livre), ainda sem data para sair. Para Winter, a moeda virtual, sozinha, “tem potencial de criar um grau de perturbação global que fará o Napster parecer brincadeira de criança”.

“Estou interessado nas implicações de uma vasta rede como a Deep Web na cultura global. Para mim, falta contextualização e compreensão sobre as novas tecnologias”, diz Winter, que vê uma revolução no conjunto que dá título ao seu filme.

Em comum, está a falta de controle. O Bitcoin dispensa um banco central e não é regulamentado por nenhum governo. Mercados de itens ilegais, como o Silk Road, funcionavam sem que nenhuma autoridade pudesse fazer algo a respeito.

Na Deep Web, navega-se sob anonimato e, por isso mesmo, é difícil se ter algum controle sobre o que acontece nesse subterrâneo da internet, onde buscadores como o Google são completamente inúteis. Para Winter, é isso que torna esse universo tão interessante. “Como qualquer comunidade, ali acontecem coisas boas e más, depende do uso que se faz dela. O que desespera as autoridades é justamente não ter controle sobre isso.”

Crime imperfeito
A ferramenta usada para se navegar anonimamente é o Tor, criado pela Marinha americana e mantido por uma organização sem fins lucrativos (Tor Project) desde 2006. O Tor se utiliza do navegador da Mozilla, o Firefox.

Como todo software, o Tor tem falhas. Uma delas foi explorada pela polícia federal americana para prender o suposto chefe do Silk Road, Ross Ulbricht, de 29 anos, em San Francisco, há dois meses.

Para o italiano especialista em cibersegurança Pierluigi Paganini, o pleno anonimato na web é “utopia”. “Além de os governos controlarem as redes, é bem fácil rastrear as atividades de um usuário online.

“É certo que os mais experientes podem adotar uma série de medidas para limitar sua exposição, mas receio que (com a exposição trazida pelo caso da Silk Road) isso se tornará uma tarefa cada vez mais difícil”, diz Paganini.

Embora o Silk Road, que pelos cálculos do FBI já fez circular 9,5 milhões de bitcoins (na época, o equivalente a US$ 1,2 bilhões em vendas), tenha sido fechado, a única coisa certa é que o comércio ilegal realizado sob o anonimato da rede não está nem perto de acabar.

“O Silk Road é só a ponta do iceberg. Fechá-lo só gerou a migração da comunidade envolvida para outros mercados. A luta contra o cibercrime está apenas começando”, avalia o italiano, autor dos livros The Deep Dark Web e Digital Virtual Currency and Bitcoin.

Outro lado
O controle e a possibilidade de uma regulamentação opressiva cair sobre o Tor também preocupa. Além das atividades ilícitas, a ferramenta é muito utilizada por jornalistas, ativistas e cidadãos que vivem sob governos não democráticos, onde a internet é censurada e o direito à livre expressão e o acesso à informação são bastante restritos.

Para Francisco Brito Cruz, pesquisador do Núcleo de Direito, Internet e Sociedade da Faculdade de Direito da USP, essa dualidade é o que torna o Tor um dos pontos-chave na disputa pela regulação da internet de modo geral, discutida em propostas como o Marco Civil. O Núcleo abriu inclusive uma linha de pesquisa focada na “controvérsia jurídica criada por mecanismos de navegação anônima”.

“Precisamos perceber o anonimato como uma ferramenta de defesa da nossa privacidade. Nunca foi razoável um governo poder meter o bedelho em quais livros estamos lendo. Por que não seria razoável criar uma ferramenta para impedir que bisbilhoteiros fiquem olhando quais sites acessamos?”, argumenta o pesquisador que ainda acredita que, para o usuário comum, conhecer o Tor hoje “é tão importante quanto conhecer o Whatsapp, o SnapChat ou o Instagram”.

A falta de controle do Estado, nesse sentido, não é a parte ruim da história. “O que é preocupante é o que pode estar em jogo caso determinados tipos de controle sejam estabelecidos”, diz Cruz. “Se forem implementados sem debate e reflexão com a sociedade, estes controles de uso da rede podem facilmente se tornar instrumentos de violação de direitos fundamentais.”

Por Murilo Roncolato

domingo, 8 de dezembro de 2013

"Mas nós sabemos muito bem que a nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos"

Manifestante palestino,  nas ruas de aldeias na Cisjordânia


"Mas nós sabemos muito bem que a nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos"

-Presidente Nelson Mandela



Na última sexta-feira, manifestantes palestinos, que saíram às ruas de aldeias na Cisjordânia para protestar contra a construção do muro israelense, portavam fotos de Nelson Mandela.

Marwan Barghouti, considerado o mais importante prisioneiro palestino detido por Israel, escreveu uma mensagem para Mandela, de sua cela na prisão de Hadarim, onde se encontra desde 2002.

"De dentro da minha cela na prisão eu lhe digo que nossa liberdade parece possível depois que você conquistou a sua. O apartheid não venceu na África do Sul e não vencerá na Palestina", afirmou Barghouti, líder do partido Fatah e visto como um possível sucessor do presidente Abbas.

Em sua mensagem, Barghouti lembrou a declaração de Mandela de que a liberdade dos sul-africanos "não será completa sem a liberdade dos palestinos".

CONSTRANGIMENTO

A longa história de colaboração de Israel com a África do Sul durante o apartheid torna a repercussão da morte de Mandela no país bem mais complexa.

O primeiro ministro Binyamin Netanyahu declarou que Mandela era "uma das figuras exemplares de nossos tempos, o pai de seu povo, um visionário que lutou pela liberdade e se opôs à violência".

Segundo o presidente Shimon Peres, "o mundo perdeu um líder de enorme grandeza, que mudou o rumo da História".

No entanto, vários analistas mencionam que durante o período em que Mandela lutava contra o apartheid, Israel vendia armas para o governo sul-africano e manteve essa aliança militar por vários anos, apesar do boicote generalizado da comunidade internacional.

"Os dois lideres (Netanyahu e Peres) obviamente não mencionaram o fato histórico de que Israel manteve uma aliança vergonhosa com o regime racista quando este era considerado pária pela comunidade internacional", afirma o jornalista Arik Bender, no diário Maariv.

O governo israelense aderiu às sanções internacionais contra a África do Sul em 1987, 10 anos após o embargo decretado pela comunidade internacional ao regime do apartheid.

Segundo o analista Hemi Shalev, em artigo no jornal Haaretz, "nós (israelenses) admiramos a luta corajosa de Mandela contra o apartheid e seu papel crucial na transição pacifica e democrática para o poder da maioria negra, mas sentimos um certo constrangimento por nosso apoio histórico a seus inimigos e também por sermos vistos como seus sucessores".



"Mas nós sabemos muito bem que a nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos"

A citação do  discurso  do presidente Mandela no Dia International   da
Solidariedade com o Povo Palestino, 04 de Dezembro de 1997, Pretoria.


http://studies.aljazeera.net/en/reports/2012/05/201251511343828397.htm


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Carta de Nelson Mandela sobre o apartheid ,






Carta de Nelson Mandela sobre o apartheid ,  ao jornalista norte-americano

Thomas Friedman.

Caro Thomas,

Sei que você e eu estamos impacientes por ver a paz no Médio Oriente, mas antes de você continuar a falar das condições indispensáveis do ponto de vista israelita, quero que saiba o que penso. Por onde começar? Digamos, por  1964.

Permita-me que cite as minhas próprias palavras aquando do meu julgamento. Elas são tão acertadas agora como eram naquele tempo: "Combati a dominação branca e combati a dominação negra. Acarinhei o ideal de uma sociedade democrática e livre em que todos pudessem viver em conjunto, em harmonia e com iguais oportunidades.

 É um ideal que espero viver e que espero atingir. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer".

Hoje, o mundo, negro e branco, reconhece que o apartheid não tem futuro. Na África do Sul, ele acabou graças à nossa própria acção de massas decisiva, para construir a paz e a segurança.

Esta campanha massiva de desobediência e doutras acções só podia conduzir ao estabelecimento da democracia.

Talvez a si lhe pareça estranho identificar a situação na Palestina ou, mais especificamente, a estrutura das relações políticas e culturais entre palestinianos e israelitas, como um sistema de apartheid.

O seu recente artigo "Bush’s First Memo", no New York Times de 27 de Março de 2001, demonstra-o.

Você parece surpreendido por ouvir dizer que ainda há problemas por resolver de 1948, o mais importante dos quais é o do direito de regresso dos refugiados palestinianos.

O conflito israelo-palestiniano não é só um problema de ocupação militar e Israel não é um país que tenha sido criado "normalmente" e se tenha lembrado de ocupar outro país em 1967.

Os palestinianos não lutam por um "Estado" e sim pela liberdade e a igualdade, exactamente como nós lutámos pela liberdade na África do Sul.

No decurso dos últimos anos, e em especial desde que o Partido Trabalhista foi para o governo, Israel mostrou que não tinha sequer a intenção de devolver o que ocupou em 1967, que os colonatos vão permanecer, que Jersualém ficaria sob soberania exclusivamente israelita e que os palestinianos não teriam nenhum Estado independente, antes seriam colocados sob a dependência económica de Israel, com controlo israelita sobre as fronteiras, sobre a terra, sobre o ar, a água e o mar.

Israel não pensava num "Estado" e sim numa "separação". O valor da separação mede-se em termos da capacidade de Israel para manter judeu um Estado judeu e de não  ter uma minoria palestiniana que pudesse no futuro transformar-se em maioria. Se isso acontecesse, obrigaria Israel a tornar-se ou um Estado laico e bi-nacional ou a tornar-se um Estado de apartheid, não só de facto, mas também de direito.

Thomas, se você prestar atenção às sondagens israelitas ao longo dos últimos 30 a 40 anos, vai ver claramente um racismo grosseiro, com um terço da população a declarar-se abertamente racista. Este racismo é do tipo "Odeio os árabes" e "quero que os árabes morram".

 Se você também prestar atenção ao sistema judicial israelita, vai ver que há discriminação contra os palestinianos, e se considerar especialmente os territórios ocupados em 1967 vai ver que há dois sistemas judiciais em acção, que representam duas abordagens diferentes da vida humana: uma para a vida palestiniana, ou para a vida judia.

Além disso, há duas atitudes diferentes sobre a propriedade e sobre a terra. A propriedade palestiniana não é reconhecida como propriedade privada, porque pode ser confiscada.

Para a ocupação israelita da Cisjordânia e de Gaza, há um factor suplementar a tomar em conta. As chamadas "Zonas autónomas palestinianas" são bantustões. São entidades restritas no seio da estrutura de poder do sistema israelita de apartheid.

O Estado palestiniano não pode ser um sub-produto do Estado judeu, só para conservar a pureza judaica de Israel . A discriminação racial de Israel é a vida quotidiana dos palestinianos, porque Israel é um Estado judeu, os judeus israelitas têm direitos especiais de que os não-judeus não beneficiam. Os árabes palestinianos não têm lugar no Estado "judeu".

O apartheid é um crime contra a humanidade. Israel privou milhões de palestinianos da sua liberdade e da sua propriedade. Ele perpetura um sistema de discriminação racial e de desigualdade.

Encarcerou e torturou sistematicamente milhares de palestininaos, em violação do direito internacional. Desencadeou uma guerra contra a população civil e em especial contra as crianças.

As respostas da África do Sul em matéria de violação dos direitos humanos provenientes das políticas de deportação e das políticas de apartheid fizeram luz sobre o que a sociedade israelita deve necessariamente levar a cabo para que se possa falar duma paz justa e duradoura no Médio Oriente e do fim da política de apartheid. 

Thomas, eu não abandono a diplomacia do Médio Oriente, mas não serei condescendente consigo como o são os seus apoiantes. Se você quer a paz e a democracia, apoiá-lo-ei. Se quer formalizar o apartheid, não o apoiarei. Se quer apoiar a discriminação racial e a limpeza étnica, conte com a nossa oposição. Quando tiver decidido, dê-me um telefonema.



Nelson Mandela



Fonte: http://www.europalestine.com/spip.php?article2982

http://palestinavence.blogs.sapo.pt/11061.html




 Mandela's First Memo to Thomas Friedman

 by Arjan El Fassed

Memo to: Thomas L. Friedman (columnist New York Times)
From: Nelson Mandela (former President South Africa)

Dear Thomas,

I know that you and I long for peace in the Middle East, but before you continue to talk about necessary conditions from an Israeli perspective, you need to know what's on my mind. Where to begin? How about 1964. Let me quote my own words during my trial. They are true today as they were then:

"I have fought against white domination and I have fought against black domination. I have cherished the ideal of a democratic and free society in which all persons live together in harmony and with equal opportunities. It is an ideal which I hope to live for and to achieve. But if needs be, it is an ideal for which I am prepared to die."

Today the world, black and white, recognize that apartheid has no future. In South Africa it has been ended by our own decisive mass action in order to build peace and security. That mass campaign of defiance and other actions could only culminate in the establishment of democracy.

Perhaps it is strange for you to observe the situation in Palestine or more specifically, the structure of political and cultural relationships between Palestinians and Israelis, as an apartheid system. This is because you incorrectly think that the problem of Palestine began in 1967. This was demonstrated in your recent column "Bush's First Memo" in the New York Times on March 27, 2001.

You seem to be surprised to hear that there are still problems of 1948 to be solved, the most important component of which is the right to return of Palestinian refugees.

The Palestinian-Israeli conflict is not just an issue of military occupation and Israel is not a country that was established "normally" and happened to occupy another country in 1967. Palestinians are not struggling for a "state" but for freedom, liberation and equality, just like we were struggling for freedom in South Africa.

In the last few years, and especially during the reign of the Labor Party, Israel showed that it was not even willing to return what it occupied in 1967; that settlements remain, Jerusalem would be under exclusive Israeli sovereignty, and Palestinians would not have an independent state, but would be under Israeli economic domination with Israeli control of borders, land, air, water and sea.

Israel was not thinking of a "state" but of "separation". The value of separation is measured in terms of the ability of Israel to keep the Jewish state Jewish, and not to have a Palestinian minority that could have the opportunity to become a majority at some time in the future. If this takes place, it would force Israel to either become a secular democratic or bi-national state, or to turn into a state of apartheid not only de facto, but also de jure.

Thomas, if you follow the polls in Israel for the last 30 or 40 years, you clearly find a vulgar racism that includes a third of the population who openly declare themselves to be racist. This racism is of the nature of "I hate Arabs" and "I wish Arabs would be dead". If you also follow the judicial system in Israel you will see there is discrimination against Palestinians, and if you further consider the 1967 occupied territories you will find there are already two judicial systems in operation that represent two different approaches to human life: one for Palestinian life and the other for Jewish life. Additionally there are two different approaches to property and to land. Palestinian property is not recognized as private property because it can be confiscated.

As to the Israeli occupation of the West Bank and Gaza, there is an additional factor. The so-called "Palestinian autonomous areas" are bantustans. These are restricted entities within the power structure of the Israeli apartheid system.

The Palestinian state cannot be the by-product of the Jewish state, just in order to keep the Jewish purity of Israel. Israel's racial discrimination is daily life of most Palestinians. Since Israel is a Jewish state, Israeli Jews are able to accrue special rights which non-Jews cannot do. Palestinian Arabs have no place in a "Jewish" state.

Apartheid is a crime against humanity. Israel has deprived millions of Palestinians of their liberty and property. It has perpetuated a system of gross racial discrimination and inequality. It has systematically incarcerated and tortured thousands of Palestinians, contrary to the rules of international law. It has, in particular, waged a war against a civilian population, in particular children.

The responses made by South Africa to human rights abuses emanating from the removal policies and apartheid policies respectively, shed light on what Israeli society must necessarily go through before one can speak of a just and lasting peace in the Middle East and an end to its apartheid policies.

Thomas, I'm not abandoning Mideast diplomacy. But I'm not going to indulge you the way your supporters do. If you want peace and democracy, I will support you. If you want formal apartheid, we will not support you. If you want to support racial discrimination and ethnic cleansing, we will oppose you. When you figure out what you're about, give me a call.

The author is a Dutch-Palestinian political scientist, human rights activist and is affiliated to the the Palestine Right to Return Coalition (Al-Awda) and ElectronicIntifada.net

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by courtesy & © 2001 Arjan El Fassed